22 de dez. de 2012

Caros leitores, hoje o blog entra em recesso até a primeira semana de janeiro, pois estarei viajando. Ao mesmo tempo, pensarei em novas medidas para reformular o blog e trazer, quem sabe, alguma novidade em 2013. Sim, isso inclui atualizações.

Abs.

4 de dez. de 2012

Governo Federal anuncia cotas em presídios

Visando aumentar o convívio entre as diversas etnias e privilegiando sempre a diversidade na sociedade brasileira e a inclusão social, o Governo Federal anunciou um novo e ambicioso projeto em sua cruzada pela erradicação do racismo: a inserção de cotas para brancos e ricos nos presídios.

"Começamos a notar que prendíamos muito mais negros e mulatos do que brancos e percebemos que isso estava homogeneizando demais o ambiente carcerário. Por isso tomamos essa decisão, a qual dou total apoio." nos disse X, um agente penitenciário que pediu para não ser identificado por medo de represálias do delegado.

O programa destina 50% das vagas disponíveis em presídios para os cotistas e será dividido da seguinte forma: metade será de cotas sociais, destinadas as classes A e B, e a outra será racial.

Embora conte com apoio de diversos profissionais na área e de agentes do sistema carcerário, a medida divide radicalmente as opiniões na sociedade.

"É uma medida absurda. Nós ralamos a vida inteira para chegar aqui e os caras acham que podem entrar aqui e simplesmente entrarem tirando vaga de um monte de gente que merece muito mais! Cadê a meritocracia?!" disse Tião, um preso de 42 anos, que "rouba desde criancinha para poder passar no presídio com 18 anos."



2 de nov. de 2012

Fecharam pesadamente a antiga porta de madeira  e acenderam a luz.

- Não deveríamos ter trocado os archotes, reclama um dos presentes, eles davam um toque mais tenebroso às nossas reuniões.

- Mas você tem que admitir que eles não combinam com a nova decoração.

De fato, não combinavam. O local mais parecia saído de um filme B de ficção científica ouda mente doentia de um cientista solitário. Talvez, quem sabe, não por coincidência.

- E você com certeza sabe quanto nós gastamos com essa decoração para ficar recolocando archotes.

- Os interruptores são mais clean também, disse outro encapuzado.

Perdoem a indelicadeza. O local é uma torre no alto de um castelo medieval no meio dos Alpes Suíços. Os encapuzados são eles.

- Senhores, cessem de discutir os archotes por favor. Vamos ao que interessa: dominação mundial.

- Estive pensando: e se nós criássemos uma tempestade que passasse pelos EUA e por Cuba e fizéssemos a mídia mundial falar apenas do primeiro para fazer com que o resto se revoltasse contra nós, seria tão engraçado! Acho tão bonitnho ver eles achando que podem fazer alguma coisa.

- Eu acho que o mundo anda meio paradão. A gente podia mandar o Vladimir falar duro com o Barack para ver se rola alguma coisa.

- Falando nele, quem a gente quer que ganhe as eleições nos EUA?

- Que diferença faz? Quem vai mandar no mundo somos nós.

- Acho que a gente podia fazer archotes voltarem a moda e reinstala-los aqui.

- Qual é a da sua tara com archotes?

- Senhores, vamos discutir assuntos mais sérios, que não sejam archotes! gritou o encapuzado sentado a cabeceira da mesa redonda.

- Cuidado! Não aqui!

Todos os olhares se voltaram para aquele encapuzado em particular.

- Eles podem estar nos ouvindo.

- Eles quem?

- Não não não. Não eles, eles, em itálico, saca?

- Tá, mas quem são "eles"?

- Como você não sabe? Eles são eles: um conceito abstrato de minoria que supostamente comanda o mundo com ajuda alienígena.

- Você quis dizer: nós?

Risadas ecoam pelo salão

- E que maluquice é essa de alienígenas? Todo mundo sabe que eles estão do nosso lado.

Mais risadas.

- Wobzz kyu quang ploc disse o marciano.

- Bem lembrado, Bob! disse o encapuzado gordo e bigodudo.

Risadas, disse o salão.

- Ordem senhores!

- Não aqui! Vamos nos mudar para aquela torre escura no alto do Himalaia! Melhor, para a gruta secreta no... espera! não posso revelar sua localização, mas lá com certeza as escutas retro-parabólicas com certeza não nos alcançarão e

- Já sei! Hoje é primeiro de Abril!

- Calma! Vocês mudaram o calendário de novo sem me avisar? Nem um recado no Face? Porra Mark!

- Não falamos nomes, lembra! disse um encapuzado.

- Eu estou falando sério! Eles estão em todo lugar.

Nesse momento o caos se instaura.

Um dos encapuzados subiu em cima da mesa, e rasgava suas túnicas enquanto berrava ARCHOTES, ARCHOTES!!

Rapidamente outros encapuzados engalfinhavam-se pelo chão da sala secreta na torre escura nos Alpes Suíços.

Mobílias eram quebradas enquanto dois senhores visivelmente embriagados discutiam em voz alta com Bob e um inexplicável elefante surgia pelo canto da sala tocando uma tuba.

- PAREM COM ESSA PALHAÇADA!!! gritou o encapuzado sentado a cabeceira da mesa redonda ESTA REUNIÃO ESTÁ CANCELADA!!! E ALGUÉM TIRA ESSE ELEFANTE DAQUI!!!


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O último dos convivas já acabara de ser retirado a força, chorando, enquanto balbuciava algo ligeiramente parecido com "Eu só queria um par de archotes! É pedir demais? O que um homem tem que fazer para conseguir seus archotes? ONDE ESTÃO MEUS DIREITOS?!" antes de ser carinhosamente nocauteado pelo segurança.

O encapuzado outrora sentado a cabeceira levanta-se com ar desconsolado ante o fracasso da reunião. Mobílias reviradas, telas quebradas, talvez os archotes fossem mesmo uma boa...

Ele pega rapidamente seu transmissor megalofônico, digita alguns números e diz, com uma voz sombria

Matem o número 17. Ele sabe demais.

28 de out. de 2012

Massacre do Serra elétrico

Um reconhecido líder, capaz de angariar multidões, surge como grande esperança de sua nação após sua derrota apenas para sofrer uma derrota ainda maior.

Não estou falando de Napoleão, mas sim de José Serra. Tal qual o baixinho após Waterloo, o careca mais odiado do Brasil deve estar olhando até agora para a foto do Haddad e pensando "onde foi que eu errei?"

Antes de prosseguir com esta reflexão, eu queria fazer uma rápida observação: a nação da qual Serra era a principal esperança não era, felizmente, o Brasil como um todo, mas sim aquela parcela da população que parece alérgica a qualquer tipo de medida de redução da desigualdade social, que anda pela rua gritando Impostos! Impostos! e que xinga seus inimigos de coisas horríveis como esquerdistas, comunistas e petralhas. 

Enfim, tendo feito essas considerações, acho que já posso responder a pergunta do ilustre aposentado: Serra, você errou em tudo.

E ao fim de uma campanha vexatória baseada em difamação, recebeu o que mereceu: uma derrota sonora nas urnas.

Toda a sua carreira foi uma preparação para esta apoteose as avessas: Serra, o grande e temido Serra, invicto em São Paulo, sendo destronado pelo seu arqui-rival Lula e, de quebra, entregando o grande bastião tucano aos petistas. 

No fim das contas, a derrota do Serra foi melhor para todo mundo. O PSDB, livre da nefasta influência de Nosferatu, se vê livre para repensar seu modelo de oposição e deixar, quem sabe, de ser o clube de amigos da imprensa e passar a se comportar de fato como um partido político expressivo. O PT ganha a maior cidade do Brasil e o Haddad a chance de provar que é mais que um rostinho bonito (até porque ele é feio) e que pode ser sim competente e que o ENEM foi um pequeno acidente. Ou seis pequenos acidentes. 

Mas os principais ganhadores fomos nós, brasileiros, que estamos vendo o fim de um dos piores políticos da nossa História. Ainda faltam muitos Malufs e Sarneys por aí, mas aos poucos vai desaparecendo o que há de pior em matéria de política nesse país. 

Só espero que esta nova geração seja melhor que a anterior.

24 de out. de 2012

To te dizendo, é genial. Claro que não, é absurdo. Por isso que é genial, vai vender como água no deserto. Ou seja, nada. Não existem pessoas em desertos, então você não teria para quem vender água. Além disso, se você considerar o Ártico como um deserto, acho que nenhum esquimó vai querer comprar água num lugar cheio de gelo. No Ártico eu vendo Coca-Cola. Pros esquimós? Pros ursos. Nunca viu a propaganda? Aliás, uma boa propaganda é tudo que nós precisamos! Já disse que eu não vou colocar um tostão nisso. Vamos cara, vai ser divertido! Adoro um prejuízo... Nesse caso você não deveria investir na minha idéia Que é absolutamente imbecil por sinal! Cara, você não entende nada dessa nova geração, eles comprariam com certeza. Já disse, ninguém vai querer uma camisa com uma foto do Karl Marx escrito "Kant Touch This"!




Ok... a gente pode pelo menos aproveitar a imagem e colocar no Facebook? Dá pra gente criar uma página chamada Humor


ei...


espera...

VOLTA AQUI! ONDE VOCÊ TÁ INDO?! CARA, NÃO PULA DESSA


Este conto foi subitamente interrompido por um trem bala que passava por aí.

17 de out. de 2012

Um post após um longo tempo e ainda por cima com título

Senhoras e senhores, voltei. Após uma longa ausência, pesadamente sentida pelos meus três leitores, estou de volta. E, como já é tradição, retorno com um grande post sobre absolutamente nada e que, de preferência, não faça sentido algum.

Durante minha longa ausência de cerca de dez dias (adoraria saber o tempo exato, mas confesso que não sei que dia é hoje, embora desconfie vagamente que seja uma quarta feira) muita coisa aconteceu. Por exemplo: o último post de fato deste blog foi sobre a campanha do Freixo, que acabou vencendo as eleições, ainda que não tenha sido eleito.

Aliás, o Paes reeleito com 60% dos votos já começou a aprontar das suas. Tem que tomar cuidado para não deixar que o sucesso o torne cego. Aliás, desconsiderem essa última frase, ela já não é mais necessária.

Nem disse, mas um dos motivos pelo qual eu não atualizei o blog foi porque eu fui mesário. E também porque no sábado antes da eleição eu acabei chegando em casa as três da manhã, mas isso é uma história para outro post.

Assim como a SiONU, que foi uma simulação que participei neste feriado e que, evidentemente, me impediu de atualizar o blog no domingo. Lógico que o post sobre ela, se sair, será mais tarde.

Contra tudo e contra todos, estamos funcionando a todo vapor!

Então, meu amigo leitor, pode comemorar que eu voltei, agora em ânimo definitivo.

Pelo menos até a próxima vez que me der preguiça.

10 de out. de 2012

Meus caros leitores, surgiu um pequeno imprevisto e estou tendo que resolver um problema agora que me impede de fazer um post minimamente legível. Sei que estou em falta com o blog já tem um bom tempo, mas não se preocupem: sua paciência será recompensada.

3 de out. de 2012

Eu suponho que meus leitores mais atentos notaram que eu estive ausente esta semana.

Explico: fazia provas na faculdade. Muitas provas. E tive que ler centenas de textos. Não me sobrou tempo.

Este post é só para avisar que já estou pensando em uma maneira de os recompensar pelos transtornos.

Me aguardem.

23 de set. de 2012

A campanha do Freixo não faz o menor sentido.

É absolutamente irracional que um candidato com um minuto e meio de tv continue crescendo nas pesquisas.

É contra todo os pressupostos básicos da lógica que um comício realizado na Lapa, em plena sexta feira a noite sob uma chuva pesada, reuna quinze mil pessoas.E o pior: nenhuma delas foi paga para isso.

E é inaceitável que essas quinze mil pessoas sejam apenas uma pequena fração de uma massa viva e pulsante que não para de crescer.

É inadmissível que esse movimento continue se espalhando. Mas ele não vai parar. 

Não vai parar porque, acima de tudo, é movido a esperança.

A campanha de Freixo não faz o menor sentido porque ela escapa completamente aos domínios do que é racional.

Ela representa a mudança. Uma nova política, diferente de tudo que veio antes.

Embarcamos nessa primavera porque, acima de tudo, ela sintetiza tudo aquilo que queremos para nossa cidade.

Muitos dos que reclamavam da pouca participação da juventude na política agora apontam dedos acusadores para nós e dizem que somos alienados e que, por não saber o que queremos, seguimos o candidato da moda.

Podemos até não ter a menor idéia do que queremos. Mas sabemos exatamente o aquilo que repudiamos: a política tradicional do toma lá da cá e tudo aos amigos e a lei aos inimigos.

Pode ser que seja um equívoco.

Mas tem mais valor fazer uma aposta arriscada que permanecer eternamente no mesmo erro.

19 de set. de 2012

Vejam só. Está chegando aquela época do ano em que o Potemkin faz aniversário. E, afim de mantermos nossa nobre tradição, eis aqui mais um post comemorando a data.


TCHAN
Com a já tradicional stripper do Potemkin. Afinal, tradições estão aí e deveriam servir para outros propósitos que não sejam relacionados a famílias, presentes e experiências traumáticas relacionadas a empadões de frango.

Como, felizmente, nenhum empadão de frango jamais foi mencionado neste blog, creio que seria um momento adequado para retornarmos ao propósito deste post: nenhum, como de praxe.

O que me lembra que, dia desses, surfando pelas estatísticas do Blogger, descobri que tive mais de 100 visitas em julho de 2009. O que acredito que revela muita coisa sobre a capacidade do Blogger de gerar estatísticas confiáveis.

Mas eu fiquei pensando: e se o Potemkin tiver sido criado em julho de 2009 e eu não fiquei sabendo?

Aliás, seria bem condizente com o espírito errante deste blog, durante três anos seu aniversário na data errada. O que me deu uma idéia: comemorar o aniversário do Potemkin em datas diferentes todos os anos. Me aguardem.

O mais estranho de chegar aos 3 anos com o blog é a sensação de velhice, mais intensa do que deveria ser. 3 anos em anos de blog devem equivaler a uns 120 anos de humanos. Só isso explica a altíssima taxa de mortandade entre blogs contemporâneos ao meu.

Muitos blogs bons - inclusive alguns que me serviram de inspiração no começo - estão abandonados ao relento. A sensação que dá é a de que eu sou uma espécie de último dos moicanos, só que como blogueiro, o que é bem menos legal.

E continuarei envelhecendo, aos trancos e barrancos, até o dia que o Potemkin perder a graça.

O que, na conta da maioria dos especialistas, não acontecerá nunca uma vez que, para que se perca algo, é necessário antes tê-lo.

Traduzindo brevemente: os senhores terão que me aturar eternamente.

Até o próximo aniversário na semana que vem.

Digo, no ano que vem.

16 de set. de 2012

Durante um período da minha infância eu tive medo de ser abandonado pelos meus pais.

Isso não tem nada a ver com eles. Eles são pessoas muito boas para falar a verdade.

É só que uma vez a gente foi num orfanato, para levar uns brinquedos, roupas, comida e, evidentemente, brincar com as outras crianças.

Na época, eu devia ter uns cinco ou seis anos.

E havia um rapaz, cuja idade eu desconheço, mas certamente parecia mais velho que eu.

Devia ter uns oito anos. Mas poderia ter o dobro.

Na hora de ir embora, eu disse tchau. Ele disse até a próxima. E se não houver próxima vez? Vai ter sim. Sempre tem. Todo mundo acaba aqui. Uma hora seus pais morrem ou te deixam aqui.

Essas palavras tinham o peso do mundo na minha cabeça.

Ele era muito mais cético do que uma criança tem o direito de ser.

Muitas memórias dessa época já não me pertencem mais. Ou perambulam pelo meu subconsciente longe do meu alcance.

Mas eu não vou, jamais, conseguir esquecer a desesperança nos olhos desse rapaz.

Não sei o que foi feito dele.

Acredito que nunca saberei.

Mas é provável que já esteja morto e enterrado.

Presumivelmente, longe de seus pais.

15 de set. de 2012

A gerência

Então, como se tornou perceptível nos últimos dias, eu não estou mais conseguindo postar diariamente. Essas coisas levam tempo para serem escritas e o blog o estava consumindo em demasia.

Não vou dizer que não dava para postar todos os dias porque dá, sim. Mas fica muito puxado.

Ao mesmo tempo, tenho consciência do fato de que este blog não pode ficar abandonado como estava antes.

Por isso, decidi postar as quartas e domingos agora. Além de posts extraordinários, caso sejam necessários.

Obrigado pela compreensão.

12 de set. de 2012

A democracia vem a cavalo

Os líbios acabaram de garantir uma passagem só de ida para a democracia.

Eu não sei se foi planejado ou espontâneo, mas foi certamente idiota. Atacar um consulado está no topo da lista de "10 coisas para se fazer quando se quer começar uma guerra". Atacar um consulado dos Estados Unidos, em condições normais, já seria algo próximo do suicídio. Ainda mais na Líbia e ainda mais nas conjunturas atuais.

Se tivesse um bolão para qual país seria invadido pelos EUA após a primavera árabe, eu apostaria pesado na Líbia. Tem todos os pré-requisitos básicos: instabilidade, risco ao Ocidente (muito perto da Europa) e, principalmente, petróleo. E agora eles tem um pretexto.

Não o mais forte dos pretextos talvez, mas com a opinião pública - uma força extremamente poderosa nos EUA, ainda mais em época de eleições presidenciais - clamando por justiça, Obama não terá outra opção a não ser entregar, numa bandeja, a cabeça dos assassinos. Ou os americanos elegerão quem o faça.

Em tempo: provavelmente foi algo planejado, afinal são poucas as pessoas que andam, habitualmente, com morteiros e lançadores de granadas. Mas, cobrindo a pequena possibilidade de ter sido espontâneo, eu gostaria de saber: quem foi o imbecil que decidiu levar morteiros para uma passeata contra um filme anti-Islã.

P.S: Acho que não causaria dano nenhum à imagem da comunidade muçulmana se eles parassem de atacar embaixadas sempre que alguém fala alguma coisa de Maomé.

11 de set. de 2012


Eu nunca consegui entender esses arquitetos. Quem projeta um prédio com o vão das escadas dando no saguão? É tão feio.

Mas daqui de cima eu consigo ver todas as pessoas.

Elas estão ocupadas.

Cada uma vivendo sua vida. Em silêncio. Sozinhas. Pouco importa quem está ao meu lado (existe alguém ao meu lado?).

Uma vez inventaram o próximo. Foi uma péssima ideia.

E lá embaixo as pessoas seguem indiferentes. Ninguém ri, ninguém chora, ninguém liga. E, acima de tudo, ninguém grita.

Ninguém, absolutamente ninguém, jamais gritou dentro deste prédio. Estamos entretidos demais com a burocracia para isso.

Chega de tudo aquilo que é primitivo e essencial. Vamos por um terno.

A vertigem não é um medo de cair simplesmente. É mais do que isso. Vertigem é uma vontade tão grande de cair que a vontade que dá é de se jogar logo. E é isso que dá medo. O que aconteceria se eu me jogasse?

Um grito corta o prédio.

No chão, um corpo. Giz. Sangue.

Um bilhete. Suas últimas palavras.

“Desculpem pela bagunça”

10 de set. de 2012

Precisamos de mais anjos

"Ali ele virou uma espécie de anjo vingador. Um anjo preto, zangado, irritadiço e sempre à beira de um ataque de nervos." 

Essa frase, retirada da coluna de hoje do Noblat, é uma definição da repercussão do papel de Joaquim Barbosa no julgamento do Mensalão. Mas, sem querer, o colunista do Globo dá uma aula sobre como funciona o racismo no Brasil.

Observemos que, após qualificar o Ministro como anjo, ele acrescenta algumas características que, da maneira como está escrito, parecem não ser as que lhes são normalmente atribuídas. Dentre elas, negro.


"Não sou racista. Tenho quatro amigos negros."
Antes de prosseguir, quero deixar algo bem claro: este texto NÃO é muito menos pretende ser uma apologia ao racismo, nem desejo acusar o Noblat de ser um nazista ou algo do gênero. Estou apenas tentando fazer uma análise dos acontecimentos.

E o fato é que nós somos absurdamente racistas. Mas nosso racismo não é daquele tipo honesto e escancarado. É um segredo guardado a sete chaves. É racismo do cara que diz que claro que não, que absurdo, não sou racista, tenho até um amigo negro com a maior naturalidade, como se ter algum amigo negro fosse algo absolutamente incomum e inusitado.

É um racismo que só vem a tona quando, ao descrever um anjo, precisamos frisar que ele é negro, porque, se não o fizermos, ninguém vai perceber. E esse tipo de comportamento está tão enraizado em nossa cultura que nós nem nos damos conta de que o repetimos na maior parte do tempo. Inclusive, muitos dos que lerem este texto vão achar que eu estou ficando maluco e vendo coisas. Alguém poderia dizer, para contrapor meu argumento, que nunca viu uma imagem de um anjo negro representada em lugar nenhum, ao que eu responderia, como qualquer pessoa sensata, que isso é só mais uma evidência gritante do óbvio: a sociedade brasileira é racista.

E não apenas somos racistas como, num perfeito caso de esquizofrenia coletiva, negamos com veemência nosso racismo e desenvolvemo um agudo preconceito contra pessoas racistas. É um mecanismo de auto-defesa, na medida em que o racismo que enxergamos nos outros absolve-nos da nossa própria visão racista de ver o mundo. Aliás, onde escrevi esquizofrenia, poderia muito bem estar escrito hipocrisia que o texto não perderia muito em sentido.



Basta apenas recordarmos daquela pesquisa que mostrou que, embora cerca de 95% dos brasileiros não se considerassem racistas, um número ainda maior disse conhecer alguém racista. Provavelmente devem ter visto algum racista andando na rua alguma vez mas assim, bem de longe, porque eu não tenho nada a ver com isso.

O que torna o racismo tão difícil de ser erradicado no Brasil é justamente seu caráter sigiloso, agravado pela recusa dos brasileiros em admitir que tem algo de podre no meio da democracia racial. E a admissão de um vício, como se sabe, é o primeiro passo para sua superação.

9 de set. de 2012

Mea Culpa

Uma vez eu disse que seria lindo se o Russomano ganhasse em São Paulo. Estava enganado. Seria, talvez, terrivelmente engraçado ver o Serra encerrando a carreira política com uma derrota dessas, sem nem chegar ao segundo turno. Mas, certamente, eleger o candidato do PRB seria um retrocesso.

A maior cidade do país não deveria ser governada por um Russomano, assim como certamente não merecia um Kassab ou um Maluf.

Sua candidatura se legitima num programa de TV no qual defende os direitos do consumidor e se fundamenta em votos arrebanhados junto aos evangélicos. Muito pouco para um cargo tão importante quanto a prefeitura, principalmente a de uma metrópole como São Paulo.


Nesse momento eu não posso fazer nada além de sentir pena dos paulistanos, que são obrigados a escolher entre Haddad, Russomano, Serra e Chalita, para ficar nos mais conhecidos.

E pedir minhas sinceras desculpas aos leitores pela desinformação.



8 de set. de 2012

Preparem suas toalhas, eles vem aí

Eu tenho certeza que existe vida fora deste planeta.

Na falta de uma introdução melhor, a verdade nua e crua jogada como uma bomba deveria servir. Agora que já tenho sua atenção, posso desenvolver melhor o tema proposto. Que, por acaso, foi jogado no parágrafo acima, num lapso de coerência raramente observado neste blog.

Embora eu não fique olhando para o céu a noite procurando discos voadores, nem jamais tenha encontrado homens azuis andando por aí, eu sei que eles existem. E essa coisa toda é muito mais lógica do que parece.

Existem pelo menos 170 bilhões de galáxias no Universo. Elas variam, no número de estrelas, entre 10 milhões e 100 trilhões. E, em torno das estrelas, costumam agrupar-se planetas. Só o nosso Sistema Solar tem oito. Sem contar Plutão, que ainda passa por uma briga judicial para reaver sua antiga condição.
One galaxy to rule them all
Eu não fiz a conta por medo do número que poderia surgir ao termina-la, mas podemos perceber que é enorme. É muita inocência acreditar que só aqui existiria vida. Ainda mais se considerarmos que nem todas as formas de vida tem que se basear, obrigatoriamente, em carbono. Aqui mesmo na Terra encontraram, dia desses, uma bactéria com enxofre em seu DNA.

A grande pergunta que eu me faço é onde eles estão. Acho que pelo tempo que o nosso planeta tem de existência, era de se esperar que pelo menos algum ser já tivesse passado aqui para destruir e conquistar. Digo, fazer uma visitinha.

Daí surgem algumas possibilidades. Número um: eles são muito inteligentes e acharam que bom, já que a gente não tem nada o que fazer naquele planetinha azul, talvez nós devessemos destruir e conquistar o vermelho ali do lado, o que explicaria muita coisa, inclusive o porque de Marte ser vermelho. Poderíamos pensar justamente que eles ainda não desenvolveram tecnologia o suficiente para viagens tão longas e que, talvez, as civilizações sigam um padrão Universo afora de crescimento tecnológico, esgotamento e extinção. A má notícia, para nós, é que estamos chegando cada vez mais perto do último ciclo.

Mas a que mais me agrada, e que me parece mais provável de já ter acontecido, é eles já terem vindo aqui, conquistado, destruído e, com medo de uma vingança, mataram as formas de vida mais avançadas, deixando apenas os mais ineptos. O que explica muita coisa acerca da condição humana.

Talvez não tenha sido um meteoro que tenha destruído os dinossauros, mas sim um bando de aliens com medo, sei lá, de que os tiranossauros evoluíssem e conseguissem um par de braços decentes.

7 de set. de 2012

Pode ser

Há 190 anos atrás nascia meu improvável país.

Improvável já em seu estágio embrionário. Reza a lenda que só fomos encontrados graças a um desvio acidental de percurso. Mesmo que a historiografia moderna refute nosso mito original com fatos, eu peço licença aos historiadores para rejeitar suas descobertas.

Conforme prosseguíamos, os acidentes continuavam aí. Nos empurrando para cima e para baixo, para o interior, para além do Tratado de Tordesilhas.

Até que de um enorme acidente culminou nossa independência. Uma guerra em outro continente fez com que a colônia virasse reino, depois colônia de novo. Finalmente, veio o mais famoso brado da História e, com ele, éramos um Império.

Improvavelmente, continuamos unidos. Apesar de todos os movimentos separatistas, que tiveram longa duração. Aliás, sentimentos separatistas subsistem até hoje. Mas nós continuamos aqui, firmes e fortes.

A Abolição e a República foram dois acidentes friamente calculados. E com o advento das teorias eugenistas, a Europa, e parte da nossa elite, gritavam aos quatro ventos que um país com tantos negros, índios e brancos vivendo juntos resultaria na degradação das três raças. Não naufragamos ainda, mas a verdade é que só agora estamos começando a esquecer os preconceitos, mesmo que durante anos nós tenhamos acreditado que éramos especiais e, de alguma forma, imunes ao racismo.

Aliás, hoje nossa nação vive um momento muito interessante de transição. Cada vez mais o improviso saí de cena e o planejamento começa a surgir, num movimento que, ironicamente, não foi programado por ninguém.

Se dará certo ou não, ninguém pode dizer. Mas é melhor não duvidar.

6 de set. de 2012

Outro debate

Hoje eu tive a oportunidade de assistir três candidatos debatendo ao vivo. Deveriam ser quatro, mas o Rodrigo Maia aparentemente teve uma crise de bom senso e decidiu que a PUC não seria o melhor lugar para ele estar num debate. O prefeito Eduardo Paes também deve ter sido contaminado, uma vez que decidiu não aparecer, estragando aquela que deveria ter se tornado a maior vaia de todos os tempos, seguida daquela que provavelmente seria a maior cara de bunda acompanhada de sorrisinho amarelo jamais feita na História. Alguém deveria fazer alguma coisa antes que o bom senso se torne epidêmico.

Enfim, decidi deixar aqui a minha impressão sobre os três presentes.

Aspásia: Estaria melhor concorrendo a avó. Sinceramente não consigo entender o que ela está fazendo nessa eleição. Só fala sobre sustentabilidade e meio ambiente e nem isso ela sabe. Hoje passou vergonha ao mostrar que não sabe como a guarda municipal funciona.

Freixo: As melhores propostas e a fala mais consistente. Fiquei impressionado com o carisma dele. Mesmo estando visivelmente cansado, aparentando as vezes estar alheio ao debate, respondeu com clareza e objetividade a todas as perguntas, ou seja, foi o extremo oposto dos seus concorrentes.

Otávio Leite: Estava completamente perdido, mas deixou transparecer um pouco de competência. Discordo dele em vários aspectos, principalmente ao propor uma maior participação da iniciativa privada no governo, o que já era esperado por sinal. Só chamou a atenção ao ser vaiado pela platéia, mas ainda assim foi uma surpresa muito positiva. É bom saber que existem candidatos viáveis além do Freixo.

5 de set. de 2012

No meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra
no meio do caminho

Eu tropecei

Lógico

4 de set. de 2012

3 de set. de 2012

Num piscar de olhos

Eu queria saber como os atletas paralímpicos brasileiros conseguem medalhas. Aliás, como eles conseguem sequer os índices para serem aceitos na competição. Afinal, já é do conhecimento de todos que o esporte no Brasil, exceção feita ao futebol, é algo relegado a segundo plano em nosso país. E como se o descaso não fosse o suficiente, eles ainda tem que encarar, digamos, obstáculos extras. Pernas, por exemplo.


Conheça Alan Fonteles. O que ele fez para merecer uma imagem gigante no meio desse post? Ganhou uma medalha. De ouro. Nos 200 metros rasos. Competindo contra Oscar Pistorius. Sim, a lenda. O Bolt das Paralimpíadas. O primeiro paralímpico a competir em uma Olimpíada. Atropelado pelo rapaz que corria com próteses de madeira na infância. 

Quando eu digo atropelado, não é uma forma de me expressar. Tal qual um BRT humano, Fonteles imprimiu uma aceleração sobrenatural e passou com facilidade por Pistorius e mais uns dois ou três competidores no seu caminho para uma incontestável vitória. 

Mas o que mais me chamou a atenção foi a cena que seguinte. Após cruzar a linha de chegada, o novo campeão renunciou as dancinhas de praxe e foi comprimentar, um por um, seus concorrentes. Inclusive Pistorius, ganhador da medalha de prata, que havia posto em questão a capacidade do atleta brasileiro.

Ato que mostra a elegância e sobretudo a humildade de um homem que trabalhou duro para chegar ao topo e que, não somente reconhece o valor de seu esforço, como também reconhece o esforço dos que foram derrotados.

A ele, todos os elogios serão poucos. Alan hoje é uma lenda, mesmo que rejeite este rótulo. É um grande exemplo de superação, de garra e de tantos outros adjetivos que, de tão escassos, já viraram lugar comum. 

Alan é um campeão nato. E merece todas as congratulações possíveis

2 de set. de 2012

O homem por trás do bigode

Estava aqui pensando. Se eu tivesse uma chance de perguntar uma coisa (não sei como, talvez por intervenção mediúnica ou viagem temporal) a Salvador Dalí eu provavelmente perguntaria como ele faz para manter o bigode dele daquele jeito.

Ok ok, eu admito que não é a pergunta mais inteligente do mundo, muito menos a prioridade da maioria das pessoas. Aliás, imagino que a imensa maioria das pessoas que lêem meus textos perguntariam algo relacionado às suas pinturas. Afinal, parece ser um desperdício chamar um médium (e um intérprete, caso você não fale espanhol) para perguntar sobre algo aparentemente tão imbecil quanto um bigode. 

Mas Salvador Dalí tinha cara de quem gostava de discutir bigodes.

Apenas ser um gênio não é o suficiente

Aliás, não duvido nada que ele tivesse um orgulho maior de seu bigode do que de seus quadros. O bigode de Salvador Dalí é a sua mais genuína expressão de surrealismo. E estampada bem na sua cara.

Afinal, um bigode nada mais é do que a materialização facial do caráter de um homem. A gente vê na cara do Sarney, por exemplo, que ele é um Sarney. E isso é ótimo. Não o fato dele ser um Sarney, não desejo isso para ninguém (três discretas batidas na madeira). Mas sim o fato de a gente, de longe, saber com o que está lidando. Como aquelas rãs venenosas amazônicas com cores brilhantes, justamente para lembrar ao mundo do seu veneno. Ou uma cobra coral. Exceto que as cobras corais não desviam dinheiro público. E não existe antídoto para mordida de Sarney.

Enfim, acho que estamos desvirtuando demais o texto. Esqueçamos, até o próximo escândalo, o bigode do Sarney. Digo próximo escândalo porque, invariavelmente, o bigode mais famoso do Brasil vai estar envolvido nele.

Eu poderia passar horas e horas aqui discorrendo sobre como é impossível governar sem o Sarney e o PMDB hoje em dia, sobre como as casas de apostas não aceitam mais que se aposte nele para "envolvido com corrupção" ou sobre como o tempo anda meio louco ultimamente né? Tava um sol outro dia e hoje essa chuva mas não nesse post! Porque esse post foi feito com um propósito maior! Um propósito digno! Algo que engrandecesse a humanidade. Este post foi feito para elogiar o bigode de Salvador Dalí!

O homem que, antes de ser um pintor genial, foi um ás do marketing. 

Dalí liderou uma escola que virou de cabeça para baixo a História da Arte. Pintou quadros brilhantes, com tigres voadores, relógios derretendo e todo tipo de situações insólitas. Conseguiu a honra suprema de ter um gênero de bigode batizado em sua homenagem. Mas, ainda que fosse um pintor medíocre, ainda hoje alguém teria ouvido falar dele, pois ele soube se auto-promover como ninguém. 

Tudo nele deixava transparecer sua excentricidade. Dalí foi um monumento ao Surrealismo. Não que surrealistas gostem de monumentos, de qualquer maneira.

Ao final de meu pequeno monólogo, Dalí provavelmente me diria: "Perdon, joven, no hablo su lengua"e desaparecido numa nuvem de vapor.

Mas quem liga? Eu falei com Salvador Dalí.

1 de set. de 2012

Foi seu primeiro assalto?

De todas as perguntas que me fizeram até agora, essa foi a que mais me impressionou.

Aliás, antes de prosseguir, preciso esclarecer um ponto: eu fui assaltado um dia desses. Ainda nessa semana. Por isso que as pessoas continuam pedindo detalhes e perguntando se eu estou bem. Eu achei legal explicar isso porque do jeito que eu escrevi alguém podia achar que eu andei por aí assaltando.

Enfim, antecipando-me as perguntas mais comuns, eu não fui agredido, eu estou bem, eu fui cercado por um bando durante o dia, levaram meu celular, mas eu bloquei o chip e recuperei o número, apesar de ter perdido todos os meus contatos e não, eu não conseguiria re-escrever esse parágrafo com menos vírgulas.

Voltando à pergunta. Eu a achei tremendamente impactante porque ela mostra uma realidade que, por vezes, nos esforçamos para esconder: assaltos fazem parte do nosso cotidiano.

Se você mora no Rio, provavelmente já ouviu alguém dizer que "Quem mora no Rio e diz que nunca foi assaltado, não mora no Rio/ é poser" ou algo que o valha. Essa frase nunca fez tanto sentido como no momento em que me fizeram essa pergunta.

Claro, eu sei que foi com boa intenção. Ou pelo menos foi bem parecido com isso. Mas a pergunta foi seu primeiro assalto deixa solto no ar um fiapo de frase. Um complemento do tipo: seu primeiro de muitos, cuidado com o próximo ou te desafio a quebrar meu recorde de 17 assaltos na mesma semana.

O fato é que o carioca, assim como  habitantes de outras cidades exageradamente grandes, se habituou aos assaltos. Ele sabe como deve proceder, anda sempre atento, evita lugares estranhos a noite, não guarda todo seu dinheiro apenas na carteira e sabe que, se for necessário, tem que torcer para o ladrão ser "gente fina" e deixar um trocado por ônibus ou não levar a mochila com seus livros e cadernos.

Esse consentimento tácito é o sinal mais claro de que os assaltos e a violência passaram a fazer parte da vida do Rio de Janeiro.

Talvez esse texto pareça um pouco atrasado com essas UPP's, mas é importante lembrar que apenas levar a polícia sem uma inserção profunda do Estado em pouco ou nada mudará essa realidade.

Mas isso é assunto para outro dia.

31 de ago. de 2012

Acabo de descobrir que restauradores espanhóis pretendem consertar o "Ecce Homo", tela também conhecida como "O Jesus tosco da internet".

A estes, eu faço um apelo: por favor, não tentem.

Sei que não entendo muito de restaurações e pode ser que seja mesmo possível manter as duas ao mesmo tempo. Mas, mesmo que seja, não o façam.

Restaurar o Ecce Homo seria matar um novo ícone cultural para salvar um quadro medíocre. Sim, um ícone que decerto sumira em duas semanas, mas que representa perfeitamente nossa sociedade.

Somos um pouco fúteis, talvez um pouco demais. Um bocado estúpidos, mas nos divertimos bastante. Não temos noção nenhuma do que fazemos a maior parte do tempo. E nem agora, para ser bem sincero.

Se não fui capaz de comove-los, peço que pensem nas gerações futuras antes de cometer tamanha atrocidade.

Ou, para manter um mínimo de civilidade, convidem Cecilia Giménez para restaura-lo.

30 de ago. de 2012

Vasculhando meus arquivos em busca de um post não terminado, por pura preguiça de começar um novo inteiro a esta hora, topei com um texto que começava (e terminava) da seguinte maneira:

"Não entendo porque colunistas tiram férias. Sério, existe alguma coisa mais fác"

Além dele não estar completo, o que diz muito sobre o autor, outra coisa salta os olhos: eu não tinha noção do que eu estava falando.

Não é nada fácil escrever um texto por dia todos os dias. Não é impossível, claro. Esse papo de não estar inspirado é desculpa de quem não tem saco de ficar escrevendo. Escritor que é escritor faz na hora.

Lógico que não saí do nada. Uma hora parece que, por mais que as idéias pulem na sua frente o tempo inteiro - e elas pulam sem o menor pudor - elas parecem sumir quando defrontadas com uma folha em branco.

Por isso que colunistas tiram férias.

29 de ago. de 2012

o tempo
não é
pontual

28 de ago. de 2012

Após a recente informação de que o Exército brasileiro só teria munição para apenas uma hora de guerra, descobrimos, através de uma fonte de alta patente, o mais novo plano nacional para driblar esse inconveniente.

"No começo, nós decidimos treinar táticas de 'guerra rápida', como a Blitzerkrieg. Depois, nós passamos a estudar armamentos alternativos, como zarabatanas, estilingues e bambus. Mas logo percebemos que já tínhamos a nossa disposição a arma mais letal de todos os tempos: o BRT", disse, com exclusividade ao Potemkin, a fonte

A idéia de usar o novo transporte público carioca como arma surgiu após observar o alto número de mortes causado pelo BRT. Além disso, ele pode ser "usado para transportar nossas tropas rapidamente até as fronteiras. Estamos estudando também o uso conjugado de portais e BRT, aumentando o alcance e a letalidade da nossa arma".

Quando questionado pelo Potemkin, Eduardo Paes respondeu que "Não estou somente revolucionando o transporte na nossa cidade, mas também a guerra. Eu sou o melhor prefeito que essa cidade já teve, votem em mim". Logo em seguida, reclamou de um promotor que o acusou, injustamente, de extrapolar suas funções de prefeito e de fazer campanha antecipada.

A novidade teve ampla repercussão internacional. Os franceses pediram um contrato de construção de BRT's com transferência de tecnologia, a ONU convidou o Brasil para se tornar membro permanente de seu Conselho de Segurança e demonstrou preocupação com um possível alastramento desta nova arma, propondo um Tratado para a não Proliferação do BRT, o TNBRT.

27 de ago. de 2012

É chegada a primavera

Votarei no Freixo.

Como sei que não é usual tomar posições políticas assim bem definidas neste blog, repetirei o parágrafo acima para convencer os leitores incrédulos: Votarei no Freixo.

Votarei sim no Freixo sem pensar duas vezes. Aliás, não é preciso nem pensar  para se perceber que ele é, disparado, o melhor candidato dessas eleições no Rio de Janeiro.

Ele não é o melhor tão somente por ter as melhores propostas. Não, isso seria muito fácil. Literalmente. Vocês já viram os concorrentes?

Mas este post não é sobre os concorrentes, mas sobre o Freixo. E sobre os motivos que me levaram a escolhe-lo como candidato.

Além das propostas, o que me impressiona nele é a genuinidade. Tudo que vem da campanha dele é expontâneo. Ele não comprou o apoio de artistas, nem se vendeu a uma coligação gigantesca.

Freixo é muito mais que uma pessoa, ele é a personificação de um ideal. Ele representa o que eu e milhares de outros jovens desejam para a nossa cidade. E é por isso que é capaz de gerar essa convergência e de atrair os eleitores mais novos para a política. É um verdadeiro fenômeno.

Alguns dizem que ele não tem chances. Eu acho que tem (outro dia explico o porque). Outros dizem que o poder muda as pessoas. Que mude. Prefiro apostar num cara íntegro, honesto, com grandes chances de alterar a História da minha cidade de maneira significativa do que me resignar e votar em branco ou em reeleger um prefeito medíocre e de conduta duvidosa.

Se preparem. Vai chegar a primavera carioca.

26 de ago. de 2012

Insisto







                                                     Existo







25 de ago. de 2012

Precisamos falar sobre democracia

Uma vez, vi um vídeo de uma entrevista do Saramago na qual ele dizia que era preciso tirar a democracia do pedestal em que ela se encontra e discuti-la. Fiquei assustado. Como assim o Saramago, logo o Saramago, quer sair por aí discutindo a democracia?? Que absurdo! Um crime! E não percebi que o criminoso era eu que, autoritariamente, decidi que a democracia está além de qualquer discussão.

Hoje, percebo como estava atrasado. Precisamos discutir sim a democracia. Até porque me parece que aquilo que a grande maioria dos governos democráticos do mundo fazem hoje passa ao largo desse conceito.

Achamos legítimo quando aquela que deveria ser a maior democracia do mundo restringe cada vez mais as liberdades de seus cidadãos em nome de uma pretensa guerra pela liberdade do mundo. Nos divertimos quando vemos essa mesma nação pressionar outros países pela extradição de um criminoso - confesso que a situação se desenvolve com tal complexidade que mal consigo acompanha-la - apesar dele já ter asilo em outro país. Aliás, o crime do qual ele é formalmente acusado foi cometido em outro continente, o que não justifica as pretensões desta grande potência.

Aqui mesmo no Brasil foi divulgado que oficiais do exército teriam mantido vigilância sobre a presidência da república mesmo após o fim da ditadura. Todos conhecemos a soberba dos militares que, do topo do seu nacionalismo, se julgam os únicos capazes de resolver os problemas do país. Podemos estar, sem saber e sem querer, cultivando as sementes de um novo golpe.

Observados todos os fatos, é legítimo que nos questionemos até que ponto vai nossa liberdade. Somos realmente capazes de exerce-la plenamente? Será que não estamos sendo sufocados?

Temo que a nossa democracia acabe matando a democracia.

24 de ago. de 2012

Sempre cabe mais um(a)

Naquilo que pode ser o início de uma grande revolução ou mais um daqueles casos que esqueceremos em um mês, um relacionamento poligâmico foi reconhecido como união estável em um cartório da pequena cidade de Tupã, no interior de São Paulo. Ok, nunca fui a Tupã e não a conheço, mas estou assumindo que é uma cidade pequena por estar no interior. Se bem que o interior de São Paulo tem umas cidades bem grandes.

Tamanho a parte, a outrora desconhecida cidade mostrou uma vocação para grandeza, encarnada na corajosa ação da tabeliã Claúdia do Nascimento Domingues. Afinal, se aqui no Rio é algo difícil de ser aceito, imaginem em Tupã.

Muitos agora devem estar me tomando por um entusiasta da poligamia. Peço um minuto de leitura antes que começam a falar que eu sou um pervertido, tarado ou coisas do gênero. Eu, particularmente, nunca estive em um relacionamento poligâmico. Confesso sentir, como muitos, um grande estranhamento ao pensar que mais de duas pessoas podem compartilhar a mesma relação ao mesmo tempo. Normal, fui criado numa cultura monogâmica, por pais que tem um casamento estável, cercado de pessoas que vivem em relacionamentos a dois.

Mas o nosso estranhamento não deve servir de parâmetro para os demais. Não acho que seja correto simplesmente dizer, como já ouvi por aí, que é uma orgia e não deve ser tolerada. Ou, pelo menos, não oficializada.

Uma coisa que eu pensei muito quando li essa decisão foi nos muçulmanos. Afinal, como já é sabido, um homem muçulmano pode casar-se com até quatro mulheres ao mesmo tempo, contanto que seja capaz de sustenta-las. Como fica a situação civil deles? Confesso que não sei. Se o marido fosse juiz, por exemplo, como se dividiria a pensão?

Ainda estamos engatinhando nesse campo e acredito que muito deverá ser feito em termos de legislação e jurisprudência para que esta situação seja devidamente regularizada. Mas estamos no caminho certo, e isso é muito importante.

23 de ago. de 2012

Recentemente, e com uma grande repercussão, o Senado aprovou um projeto de lei que prevê 50% de cotas para alunos pertencentes a minorias ou oriundos da rede pública. Confesso que não abordei previamente este tema por pura preguiça, mas como estou atualizando o blog diariamente agora, pareceu-me oportuno voltar a este assunto hoje, assim como fatalmente deverei escrever textos sobre outros eventos passados que, pelo mesmo motivo, ainda não foram postos no papel. Ou na tela pixelada ou algo assim.

Enfim, falta de assunto a parte, voltemos as cotas. Entendo que é um assunto terrivelmente polêmico e que desperta as paixões alheias, afinal, toca numa questão pessoal para muitos de nós, que é o mérito. A meritocracia, se existisse, deveria sim ser preservada.

Muitos dos meus leitores agora devem ter pensado: Se existisse, porque agora com as cotas não existe mais. É um pensamento muito atrativo, mas é um grande engano. Não existe meritocracia porque simplesmente não existe uma competição justa. E é aí que entram as cotas.

Elas não existem para dar vaga para vagabundo, como muitos dizem, mas para corrigir uma injustiça inerente ao sistema, que é o fato dos alunos de escolas públicas não terem acesso a uma educação de qualidade. Muito do meu mérito em ter passado para a faculdade é, na verdade, do meu pai que sempre se esforçou para pagar boas escolas para mim, algo que nem todos tiveram.

Constatada a óbvia diferença de condições, não se pode falar em meritocracia no Brasil, pois não existe uma competição justa.

Lógico que apenas as cotas não são o suficiente. A cota é um mero paliativo. Insistir apenas nas cotas, como deseja o governo, é errar duas vezes. A primeira é por não solucionar definitivamente o problema, a segunda é por instalar uma sensação de que o problema foi resolvido. Atuando como placebo, as cotas não serão capazes de reduzir essa injustiça inerente ao sistema, mas sim irão amplia-las e aprofunda-las.

A solução ideal para mim seria que o governo se comprometesse a investir mais na educação, com um prazo fixo para o fim da política de cotas. Organização é crucial para esse tipo de investimento.

Também me parece certo que o governo não imponha nada as universidades de maneira direta, como foi feito agora, uma vez que fere a capacidade de autodeterminação destas. Poderia ser incluída na lei uma recompensa financeira para as universidades públicas que cooperassem. Do jeito que elas estão quebradas, ia fazer um grande sucesso.

O que me parece bem difícil quando a gente vê o Ministro da Fazenda dizendo aos quatro ventos que o investimento em educação vai quebrar o Brasil. Com esse tipo de pensamento pequeno, parece que nos limitaremos a dar um jeitinho e deixar por isso mesmo.

Uma pena.

22 de ago. de 2012


Todos os dias. A mesma rotina. Todos os dias. Todos. Sem exceção. Todas as rotinas os mesmos dias todos os dias. E suas mesmas rotinas. Porque mesmo as rotinas podem se ser diferentes entre si, repetindo-se eternamente num ciclo repetitivo de inovação.

Todos os dias.

Se pelo menos eu ouvisse alguma música. Mas a única música que eu ouço são os pis ritmados das máquinas  que me cercam. Tum tum tum tum pi pi pi tum pi pi. Essa sinfonia, tocada por uma orquestra de diferentes coisas ligadas a mim, me acompanha rumo ao meu destino final. Será que eu finalmente vou sair dessa cama? Piiiiiiiiiiiii de vez em quando minha intranqüilidade de sons retorcidos e entrelaçados é interrompida por um longo pi agudo. Alguém escapou.

E eu continuo preso. Preso a essa cama. Ao leito da minha miséria. Preso por correntes. Correntes que me alimentam. Correntes que me respiram. Correntes que me são porque eu não tenho mais autonomia para me ser. Correntes que estão entranhadas tão profundamente no meu corpo que já não são mais parte de mim, e sim eu que sou apenas mais uma extremidade (esquisita) delas. Perdão, já fui. Hoje, eu não sou mais.

Se pelo menos eu tivesse vista pra praia. Mas só o que eu vejo é cinza. Cinza e áspero da parede do meu quarto. Tão cinza e tão áspero como isso que insistem em dizer que eu vivo. Isso que eu fiz de mim e que hoje eu me sou tão intensamente que me chego a não ser. Se pelo menos eu tivesse vista pra praia eu poderia me distrair um pouco enquanto eu espero a morte chegar num compasso sincopado de pis, piiis, pi-pis tuns e outros sons. Mas hoje eu sou apenas o que ainda ecoa de uma outrora existência.  Sou o som que morre ao fundo bem mais fundo que o ouvido alcança. Se pelo menos eu existisse...

Mas eu não existo, eu apenas espero. E nesse esperar eu suponho que vivo, mesmo que esteja morto. Mesmo que eu seja apenas mais um aparelho, apenas uma decoração desse necrotério que respira.

Às vezes, minha porta se abre para que um homem de branco entre. Ele segura sua prancheta, balança a cabeça como quem diz tão cedo você não vai, faz alguns ajustes e saí caminhando melancolicamente. Aí vem uma mulher (de branco) e aumenta minha dose de morfina. E eu volto a viver por um momento. Eu sou.  Mas (tão) logo o efeito passa, meus sonhos e ilusões desmoronam como uma fortaleza e eu volto a minha realidade de dores, solidão, espera. Mas de repente eu lembro que minhas dores são tão falsas quanto minhas alegrias. Dores são para os vivos. Eu sou um morto apenas esperando para morrer. Como uma lagarta que vira borboleta dentro de um casulo. Exceto que meu casulocorpo já é podre. E eu apodreço cada vez mais dentro dele, esperando pelo dia em que eu finalmente deixarei de voar para sair rastejando como um miserável. Eu era.

Mamãe, porque ainda está ligado?  Desliga, mamãe, desliga. Desliga todos os barulhos, todos esses defeitos, esses incômodos que me incomodam. Desliga esses aparelhos quebrados. Desliga o que é desperdício ligar, mamãe. Desliga o microondas. Eu tenho medo, mamãe. Alguém, por favor, alguém.

O som das pessoas conversando evapora e chega ao meu quarto pela janela – que de tão pequena e fechada não merece esse título – como se fosse um cheiro. E esse doce aroma sonoro misturado a todos os cheiros propriamente cheirados e todos os vapores e cores que emergem da rua só pra me lembrar da vida que outrora foi minha e eu penso que tudo um dia já valeu à pena, tudo um dia já foi bonito, tudo um dia já foi tão... vivo. Mas meus dias se foram e deles só o que resta são as projeções quebradas de sonhos que viraram realidade só depois de virarem pesadelos.

Como é triste o fim. E como é triste não saber quando o fim termina. Não há nada pior que viver preso ao fim que se prolonga como o resto de pasta de dente que insiste em ficar dentro do tubo. O fim que recomeça a cada instante. O fim que não tem fim. Um ciclo.

Odeio quando chove. Porque quando chove, e só quando chove, minha janela fica aberta. E mesmo que seja apenas uma brecha no cinza áspero da minha vida, é o suficiente para me deixar molhado. A água penetra minha pele e vai mofando meus ossos e enferrujando meus músculos. Cada vez mais eu sou menos. Definhando.

A porta se abre. Mas não é um médico. Nem uma enfermeira. Queria morfina. É um raro parente distante. Quero morfina. Ele me olha como se não me conhecesse. Não faz mal. eu também não o conheço e rejeito sua caridade. Não posso mudar meu testamento e mesmo que pudesse nada mais tenho. O tempo roubou tudo de mim. Minha vitalidade, meus sonhos. O brilho no meu olhar. O tempo roubou minha morfina.

E conforme vai sendo escrito, ele impõem mais e mais dificuldade. Ele sabe que, quanto mais é escrito, mais viverá. A história termina para que finalmente ela seja livre como uma brisa que desintegra lentamente o personagem, derretido em pó carregado pelo vento.  


Todos os dias.

21 de ago. de 2012

Não é dos carecas que elas gostam mais

Acabo de ser surpreendido com a notícia de que o Serra possui o maior índice de rejeição entre os candidatos a prefeito de São Paulo, com inacreditáveis 38% de... sei lá... ódio eleitoral. O que meio que comprova para todo mundo que ele já morreu para a política.

Mas se já tínhamos uma vaga noção do falecimento do político José Serra, porque exatamente essa notícia seria uma surpresa? Simples: estamos falando de São Paulo.

Para os que não sabem, São Paulo é um tradicional reduto do PSDB, visto por muitos como uma fortaleza inexpugnável. Uma espécie de Morro do Alemão da oposição. E foi justamente essa posição da autodenominada Locomotiva do País que levou o intrépido ex-presidente Lula a se embrenhar na selva de concreto armado apenas com um Haddad, que é um tipo de Dilma piorada, numa heróica tentativa de quebrar o monopólio tucano em São Paulo.

Monopólio este que ameaçada ser quebrado por ninguém menos que o improvável Celso Russomanno, do praticamente inofensivo PRB, do qual eu confesso nunca ter ouvido falar antes. Ele que outrora fora comparado a um cavalo paraguaio, um elefante no alto de um poste e, mais ultrajante ainda, ao Haddad, agora lidera as pesquisas com 31% de intenções de voto e um dos menores índices de rejeição por parte dos eleitores. Ou seja: ele vai crescer.

E crescendo, provavelmente vai enterrar de vez o Serra que, como se sabe, precisa ganhar essa eleição para se manter vivo na política. Na provável hipótese de derrota, ele provavelmente será forçado a se aposentar. Mas o que seria ruim para ele poderia se provar algo excelente para o PSDB, que teria em Aécio Neves nome incontestável para disputar as próximas eleições presidenciais. Livre das disputas internas, o único tucano com envergadura suficiente para vencer a Dilma, teria reais chances de chegar ao Planalto.

Mudando um pouco  foco: não seria lindo se Russomanno e Freixo ganhassem as eleições municipais que disputam? Ver as prefeituras das duas maiores das cidades do país nas mãos de partidos nanicos seria um alívio nos dias de hoje, em que vemos a política monopolizada pelo binômio PT/PSDB (sempre acompanhados do PMDB) e, quem sabe, uma promessa de vôos mais altos em 2014.

20 de ago. de 2012

Este blog está em um estado terrível de abandono. De verdade. Só não digo que ele está entregue as moscas porque nem elas aceitaram gerir este espaço.

Tendo observado este fato, decidi partir para medidas drásticas: a partir de hoje, até o dia 20/08/2013, este blog será atualizado diariamente.

Preparem-se.

11 de ago. de 2012

Nunca gostei muito de vôlei. Alguns de vocês provavelmente já me ouviram questionar a viabilidade de um esporte sem contato físico que não envolva raquetes.

Pois bem, hoje eu estou aqui para dizer que vôlei também pode ser um esporte interessante. Muito por causa da heróica medalha de ouro conquistada hoje pelo Brasil.

Aquilo foi surreal. Um time chega completamente desacreditado, estréia com derrota, leva uma surra no primeiro set e ressurge de maneira triunfal sobre o adversário, que era o favorito. Surreal.

Confesso - falando bem baixo e olhando desconfiado para os lados - que cheguei a ficar com o coração na boca no último set. Só relaxei quando o Brasil fez o último ponto e a vitória estava sacramentada.

Para minha surpresa, eu estava comemorando. Elas mereceram demais. Pelo esforço, pela dedicação, pela coragem, pela superação e por mais meio Aurélio de qualidades que não citarei por preguiça.

Essa medalha de ouro é do tamanho do mundo. E elas estão de parabéns pela conquista.

1 de ago. de 2012

Existem certas coisas que o dinheiro não compra. Márcio Thomaz Bastos acaba de descobrir isso da pior maneira possível.

Há alguns meses atrás ele foi contratado por fabulosos 15 milhões de reais para defender o notório contraventor Carlinhos Cachoeira. Na época, houve grande estranhamento e o criminalista mais caro do Brasil, e provavelmente do mundo, viu-se coberto de críticas por todos os lados.

Afinal, não pegava bem para um ex-ministro da Justiça defender um contraventor cujas primeiras acusações, inclusive, datam de seu mandato no Ministério. Aposto como não fui o único que se questionou acerca da idoneidade das relações entre defensor e acusado. Até o presente momento nada nas investigações confirma estas suspeitas e minha língua está devidamente queimada.

Mas todo o resto está ruindo. A começar pela reputação de melhor criminalista do Brasil. Afinal, ele não conseguiu passar um único habeas corpus em favor de seu cliente nestes cinco meses! Em que pese a dificuldade do caso, é uma marca expressiva para o advogado que é (era) considerado o melhor criminalista brasileiro.

Márcio Thomaz Bastos afirmou estar impelido pelo desafio que seria defender Cachoeira. Não estava. Sua maior motivação, como já parecia óbvio naquela época, foi financeira. Mas o seu principal prejuízo não foram os 10 milhões de reais que ele deixará de receber, mas sim a marca indelével que o caso Cachoeira deixa em sua carreira.

Você contrataria um advogado caríssimo sabendo que ele abandonou seu último cliente à sorte? Eu não.

Em tempo: do jeito que o caso Cachoeira tem deixado um rastro de sangue em Goiás, toda a cautela do Mundo é recomendada ao ex-ministro.




30 de jul. de 2012

Paes confirma: bom tempo é resultado de ação da prefeitura

RIo de Janeiro - Em comunicado oficial, o prefeito da cidade do Rio de Janeiro Eduardo Paes disse que as altas temperaturas e o bom clima da cidade nos últimos dias, apesar do inverno, foram obra da prefeitura.

- A prefeitura, com a ajuda da nossa parceira em grandes eventos, a Fundação Cacique Cobra Coral e de investimentos do Governo Estadual, garantiu aos cariocas uns dias de sol no meio do rigoroso inverno do Rio de Janeiro, porque sabemos como nosso povo gosta de uma praia - confirmou o prefeito com exclusividade ao Potemkin. Quando faz frio na cidade é que as pessoas mais precisam de mim, completou.

Ele também disse que já está encomendando placas para colocar ao redor da cidade - todas de maneira irregular segundo o decreto promulgado pelo próprio prefeito no início deste ano - para que os moradores possam saber a origem das benesses.

- É muito importante que a cidade se lembre de mim agora, teria dito Paes a um assessor.

Ele aproveitou a ocasião para lembrar que a prefeitura não se responsabiliza pela questão da violência na cidade e, quando questionado sobre os engarrafamentos, negou veementemente a existência destes no Rio e sugeriu que a equipe de reportagem "procurasse o Kassab".

A redação também tentou entrar em contato com o Governador Sérgio Cabral, mas as ligações para Paris estão muito caras.

27 de jul. de 2012

Lobão Elétrico

Senhores, senhoras, gostaria de pedir aos que ainda estão de pé que se sentassem por um momento. Ou aos que estão sentados que fiquem em pé. Não tenho muita certeza. Nunca memorizei os procedimentos para dar notícias chocantes. E nem comecem a falar dos que estão deitados!

Enfim, o fato é que está chegando a eleição para a presidência do Senado. Dilma já anunciou que prefere Lobão - não aquele, o Ministro - por ele ser, digamos, uma pessoa de confiança dela. Que, aliás, deveria pensar em rever seus conceitos sobre o assunto.

Como já era de se esperar, o nome de Lobão foi prontamente rejeitado pela base aliada, que de aliada não tem nada. O nome proposto pelos pemedebistas para suceder José Sarney foi nada mais nada menos que... Renan Calheiros.

Tudo bem que sendo o atual presidente o Sarney, o Renan nem parece uma escolha tãããooo ruim assim. Pelo menos ele não escreve poesias.

Mas porque nós devemos nos contentar com o péssimo quando podemos ter algo ruim? Eu apoio a candidatura do Lobão a presidência do Senado! Mesmo sendo completamente desqualificado para o cargo, ele está muito mais capacitado para exerce-lo do que o Sr. Calheiros.

Além disso, é uma maneira de matar dois coelhos com uma cajadada só. Não apenas impediremos a posse de Renan como presidente da casa, como também tiraremos Lobão do Ministério de Minas e Energia. Embora seja um especialista na área, já tendo lido alguns livros sobre o assunto, é perceptível que a sua gestão chegou ao seu ápice e precisa ser renovada.

Só espero que a Dilma não invente de colocar o Sarney no Ministério. Ele já empregou parentes o suficiente.

21 de jul. de 2012

Se a vida te dá limões...

Como todos já sabem, votarei no Freixo nas eleições municipais do Rio de Janeiro este ano. E, como os demais entusiastas desta candidatura, acreditava que a mídia não divulgava nenhuma pesquisa eleitoral por medo. Tinha certeza absoluta que ele estaria brigando nas cabeças com o Paes. No mínimo 30% das intenções de votos. Mas a realidade me deu um tapa na cara.

Ontem o Datafolha divulgou as primeiras pesquisas e Paes liderava com 54% das intenções de voto. Freixo vinha em segundo, 10%. Bom, pelo menos ele está brigando nas cabeças com o prefeito.

Muitos vêem nisso motivo para desânimo, mas eu digo: sigam otimistas e não se deixem abater por uma simples pesquisa!

Oras, 54% parece uma vantagem impossível de ser batida, mas quando observamos a disparidade entre arrecadação e tempo de TV, sem contar o uso covarde da máquina estatal e uma campanha que começou muito antes das outras, é até pouco pro Paes. 

A tendência é que a campanha do Freixo cresça cada vez mais, pois ela não é uma campanha baseada em arrecadações e em alianças escusas. É, sim, movida a ideais. 

A vida nos deu uns belos limões, mas eu sugiro que façam como eu: guardem seus limões para jogar no Sr. Eduardo Paes da próxima vez que ele inventar de dizer que a cidade precisa dele quando um prédio desmorona.

Precisamos de um prefeito em tempo integral. Uma pessoa que arregace as mangas para limpar a cidade. Alguém que tenha coragem para bater de frente com empreiteiras, empresas de ônibus, milícias e afins. Precisamos de Marcelo Freixo.

E se preparem: vai ter segundo turno.


19 de jul. de 2012

Lá e de volta outra vez

Hoje sai um texto. Aliás, vai sair agora.

Acabou essa sem-vergonhice de ficar com o blog mais vazio que a Câmara dos Deputados em dia de plenária.

Não sei ainda sobre o que vai ser esse texto, mas ele vai sair.

Eu poderia falar sobre as eleições vindouras. Vou votar no Freixo e o jingle mais tosco é o do Dr. Perereca. Que eu descobri depois de ver a kombi dele num engarrafamento. Na minha frente. Por uma meia hora mais ou menos. Mas ele tá no Facebook, então tá beleza.

Ou então sobre um novo passatempo que eu descobri: inserir nomes de Pokémons nos livros. Charmander in the Rye, Charizard 451, The Haunter Palace, The Old Man and the Seaking, A Farfetch'd to Arms... A lista não acaba.

Vamos ver... Eu poderia falar sobre o suplente do Demóstenes, que já está enrolado no Senado e precisa explicar suas relações com Cachoeira. Mas acho que ninguém quer ouvir muito sobre isso.

Aliás, falando em coisas que ninguém está muito afim de saber, hoje é dia do futebol. Basicamente tudo tem dias hoje em dia. Olha o ponto em que nossa sociedade foi chegar. Depois os maias dizem que o mundo vai acabar e ninguém sabe porque. Aliás, nesse ritmo periga o Dia Internacional do Fim do Mundo virar feriado. Se o mundo não acabar, lógico.

Eu poderia falar que eu nunca reviso meus textos, mas acho que vocês já perceberam isso. É, eu deveria. Mas eu posso começar amanhã. Junto com a minha dieta.

Enfim, eu tenho muito para falar, mas o mais importante é que o blog está voltando ao seu ritmo normal.

Ou seja, outra atualização, só em agosto.

15 de jul. de 2012

Você reclama que meu blog está abandonado. Justo.

Fala que tem um tempão que isso aqui tá largado. Verdade.

Quase não entra mais porque não deve ter nada novo mesmo. Faz sentido.

Mas, se serve de consolo, tem um blog atualizando menos que o Potemkin.

29 de jun. de 2012

Crônica de uma suspensão anunciada

Conforme já havia sido anunciado ontem pelo Patritota, a Mercosul suspendeu o Paraguai, sem a imposição de sanções, numa ação perfeita dos países sul-americanos.

Tem razão os que afirmam que a política é um assunto interno paraguaio. Mas, a partir do momento passa a interferir em outros países, é legítimo que haja retaliação.

Não é novidade para ninguém que a democracia na América Latina não é exatamente uma tradição. E, num continente com tão combalidas instituições, qualquer ameaça deve ser prontamente cortada.

Houve sim um golpe no Paraguai. Um golpe disfarçado de legitimidade, mas houve. Não existe julgamento de impeachment em menos de 24 horas. Lugo nem pode se defender. Além do mais, basta apenas lembrarmos que o Partido Colorado, mentor da cassação, governou por cerca de 50 anos antes que Lugo fosse eleito.

Admitir qualquer violação à democracia seria um retrocesso. E abriria um perigoso precedente para novas ações e, quem sabe, até outros golpes de fato e a implementação de novas ditaduras.

Não sancionar o Paraguai foi uma decisão muito sábia, afinal, uma decisão política deve ser resolvida no âmbito político. Além disso, o Paraguai não precisa de nenhum "incentivo" para que sua economia piore.

Em tempo, deixar a Venezuela entrar foi politicamente genial - embora eu acredite que esta questão ainda merecesse maiores exames. Por um lado, foi uma espécie de sanção ao Paraguai, afinal, apenas eles eram contra a entrada dos bolivarianos no bloco. Além disso, foi uma maneira de mostrar ao resto do mundo, e em especial aos EUA, que a América Latina tem um pensamento independente.


E, de quebra, o Mercosul se fortalece com o poder do petróleo.

15 de mai. de 2012

Estamos no Facebook!

Seguindo sua vocação vanguardista, o valente encouraçado Potemkin parte para explorar novos mares, singrando por redes sociais nunca dantes navegadas por blogs literários obscuros!

E salve-se quem puder.

7 de mai. de 2012

                    U                                   O


C                                    B

 
                   C                                 B


U                                     O

                                

26 de abr. de 2012

Pelos direitos de todos

Como todos os meus bem informados e atualizados leitores sabem, neste exato momento em que eu escrevo, o STF está votando a questão das cotas sociais. No presente momento, a eleição está em 9x0 para as cotas, mas tudo indica que a decisão será unânime.

É um passo extremamente importante para a resolução da questão racial no Brasil. Sim, embora algumas pessoas teimem em não reconhecer, nós temos um grave problema racial, embora ele seja, como já é de praxe no Brasil, varrido para debaixo do tapete e depois dá-se um jeitinho.

Enfim. Não querendo ficar para trás, o Potemkin faz jus ao seu viés revolucionário e segue, mais uma vez na vanguarda.

Senhoras e senhores, é com prazer que lhes informo que hoje o Potemkin se torna o primeiro blog da internet a adotar cotas para o humor negro!

A partir desta noite, 10% dos posts do blog deverão conter trocadilhos ofensivos, piadas ruins ou, porque não, ambos! Aliás, não é nada muito diferente do que já se faz normalmente por aqui.

Desta maneira, voltamos a assumir nossa postura de liderança na luta pelos direitos das minorias! E que venham novas batalhas!


22 de abr. de 2012

Diferentes maneiras de responder a pergunta: "Porque a galinha atravessou a rua?"

Criacionista: Na verdade, Deus criou a galinha do outro lado da rua e apenas implantou as pegadas para testar nossa fé.

Guia do Mochileiro das Galáxias: 42

Político: Eu não fiquei sabendo de nada. A galinha é um bípede de idoneidade e honestidade inquestionáveis. É uma das grandes aves desta nação, com mais de cinquenta anos de vida pública. Sou amigo pessoal da galinha e posso afirmar com toda certeza do mundo que ela jamais, em hipótese alguma, atravessou a rua.

O Globo: Governo abre uma CPI para investigar o "caso galinha"

Veja: CPI da galinha é uma cortina de fumaça sobre o mensalão.

Carta Capital: Galinha sequestra última edição da Carta nas bancas de Goiânia.

Conspiração: Aposto que os americanos estão envolvidos.

Sociólogo: Na verdade, há todo um contexto de marginalização e de exclusão social que leva nossas galinhas a atravessarem as ruas rotineiramente em nosso país tão injusto.

Outro sociólogo: Com o perdão da intromissão, mas na verdade o atravessar a rua já é um ritual milenar entre as tribos galináceas, que data já desde antes da criação das primeiras ruas. É uma análise muito superficial sua dizer que isso se dá apenas devido ao contexto de marginalização aviária presente em nosso país, uma vez que este comportamento é observado em galinhas de todo o planeta.

Emoticons Código Morse:
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Conciliador: Vai ver ela gostava do outro lado. Quer dizer, nada contra esse lado, um lado muito legal que eu admiro muito pela sua lateralidade, as pessoas desse lado são super legais e eu gosto muito delas mas, vai ver que, na cabeça da galinha, o outro lado era melhor né? Não que eles sejam piores, é um grande lado também , o outro. Na verdade, eu gosto tanto dos dois lados que eu era capaz de passar o dia inteiro no meio da rua pra não ter que escolher um deles. Não que eu não goste do meio da rua, eu poderia ficar um tempão lá pela companhia também.

Distraído: Ih, olha lá! Atropelaram o conciliador!

Comunidade científica: Ainda não sabemos ao certo, mas vamos botar mil galinhas pra atravessar a rua, fazer umas anotações e depois convocamos uma coletiva de imprensa.

Prático: Tinha milho do outro lado.

Zoófilo: Eu não sei. Mas eu vou atravessar. Pra perguntar pra ela. Só por isso.

4 de mar. de 2012

Psico-délico

Acredito que todos tenham acompanhado, tão alarmados quanto eu, espero, a nomeação do senador-bispo-pastor-ou-sabe-se-lá-qual-cargo-dele-na-Universal Marcelo Crivella para ser ministro da pesca.

Essa noticia foi extremamente preocupante porque, em primeiro lugar, se existe um ministro da pesa, deve obrigatoriamente existir um Ministério da Pesca. Sim, nós temos um. Por que? A pergunta talvez seja por que não.

Ou talvez não haja necessidade de perguntas. Sem querer diminuir a importância da pesca, mas esse Ministério é quase tão útil quanto, digamos, um Ministério das Gravatas ou Ministério da Preservação das Borboletas com Asas Azuis da Groenlândia (popularmente conhecido como MPBAAG).

Esse tipo de Ministério serve apenas para aplacar a fome de cargo dos partidos. De todos. Independente da orientação politico-ideológica, é fato que eles parecem mais interessados com seu enriquecimento do que com qualquer outra coisa. Inclusive com a pesca.

O que nos leva ao segundo ponto. Ok, ok, fizemos o tal do ministério. Agora, como será que de todos os nomes possíveis entre oceanógrafos, engenheiros de pesca (sim, eles existem), pescadores ou até mesmo taxistas (que parecem saber de tudo) ganhou um cara que nunca foi nem num pesque e pague??

A resposta é simples e desesperada: a verdade é que nem o governo leva a sério o Ministério da Pesca. E o da Cultura. E o da Educação. E o dos Esportes. E o do Meio Ambiente. E da Fiscalização Alfandegária. Enfim, basicamente de todos os ministérios, tirando o da Fazenda, é claro, já que sem uma economia sólida governo nenhum se sustenta no Brasil.

(aliás, eu semper quis saber porque o Ministério da Fazenda tem esse nome se ele trata de cédulas e não de animais ou vegetais ou tratores)

Esse é apenas mais um dos muitos sinais do óbvio: no Brasil os Ministérios são apenas moeda de troca política e uma garantia de dinheiro fácil no fim do mês. Enquanto a mentalidade dominante (e não é só na classe política, posto que senadores e deputados são meros reflexos de seus eleitores) for mesquinha e egoísta, é só isso que se pode esperar do país: mesquinharia e egoísmo.

24 de jan. de 2012


Todas as ruas
parecem a Presidente
Vargas
todas as esquinas
as mesmas esquinas
os mesmos becos
sem saídas
os mesmos caminhos
tortuosos
os mesmos tormentos

os mesmos motoristas
que avançam o sinal
os mesmos pedestres
atravessando
fora da faixa
os mesmos pedintes
os mesmos famintos
os mesmos miseráveis
os mesmos executivos
de terno e gravata
atrasados pra uma reunião
de alguma multinacional

as mesmas bancas de jornais
do mesmo cara
italiano
que se acha carioca

todas as barbas
se parecem
mas somos todos
iguais

12 de jan. de 2012

Subversão

subir.
que
tem
desce
que
Tudo  

10 de jan. de 2012

O que vai ser?

É noite. A hora exata foge dos personagens, mas acredita-se que essa história se passe durante a madrugada. Deixando de lado as especulações, o fato concreto é que a história se passa numa noite escura como breu. Aliás, eu sempre quis saber o que é breu e porque ele é tão escuro. Semântica a parte, o narrador gostaria de adicionar um pequeno nevoeiro, no estilo das fogs londrinas, ao cenário.
O cenário aliás, é um beco escuro e mal iluminado, como os daqueles daqueles filmes de detetive em preto e branco. A iluminação do beco, no estilo daquelas luminárias penduradas nos tetos de restaurantes baratos, cuja luz é tão fraca e amarelada que não mal consegue iluminar o centro da mesa, deixando uma pequena zona circular iluminada e o restante do beco na escurido. Enfim, a iluminação do beco é um mistério, posto que não se vêem nem postes nem luminárias baratas que poderiam ser sua fonte.
 Eis que nesse cenário pitoresco, se aproxima uma figura ainda mais pitoresca. Vestido  com um sobretudo preto e usando um chapéu -igualmente preto- idêntico ao do Cint Eastwood naquele filme, ele desliza silenciosamente pelo cenário. De vez em quando ele dá uma olhadela discreta pelo rabo do olho, para certificar-se de que não há ninguém o seguindo. Ele para exatamente no centro da zona iluminada do beco por aproximadamente dezessete segundos antes de deslizar de volta para a escuridão.
Aproximadamente cinco minutos depois, um observador mais atento poderia notar a chegada silenciosa de um rapaz franzino. Porém, infelizmente, trata-se de um beco um tanto quanto deserto e, por isso, não haviam observadores, quanto mais observadores atentos e, portanto, sua chegada passou desapercebida. Rapidamente, o rapazote se posicionou no centro da zona iluminada e foi puxado para a escuridão.
-Você mataria um homem? O cara de chapéu cuspiu a pergunta enquanto agarrava o rapaz franzino.
-Apenas as terças e quintas das 10h as 17h.
-Então, o que vai ser?
-Cara, que tipo de senha é essa?
-Eu não faço as senhas. O que vai ser?
-O que aconteceu com meu contato da
-Semana passada? Pegaram ele. O que vai ser?
-Arranhou o disco?
O homem com chapéu (que, na falta de um codinome, será chamado de Clint de agora em diante) agarrou o rapazote (que, pelo mesmo motivo, será chamado de Wihelm Telonius III), encostou-o contra a parede e disse(cuspiu):
-Escuta aqui garoto! Você sabe o que acontece com quem eles pegam, hein?! Você sabe?! Nem eu. E eu não tenho o menor interesse em descobrir.
Wihelm Telonius III assentiu com a cabeça e engoliu em seco. Um frio percorreu rapidamente sua espinha. As coisas estavam cada vez mais difíceis naqueles dias.
-Você sabe quantas vezes eu já troquei de codinome essa semana garoto?!?! Dezessete.DE-ZES-SE-TE!! Você tem alguma idéia do que é isso?! Nem eu sei mais como eu me chamo!! Sabe pra que?! Interrompeu o esporro brevemente e olhou para os lados acintosamente, de um modo maníaco e um tanto quanto assustador. Depois aproximou seu rosto do de Wihelm Telonius III e disse então, garoto, o que vai ser, com um olhar maníaco-penetrante tipíco dos maníacos.
-Escuta, disse Wihelm Telonius III olhando desconfiado para os lados, é bom mesmo?
-O melhor.
-hmmm... O que você tem aí?
-Tenho de todos os tipos para todos os tipos disse Clint enquanto soltava um riso abafado.
-Seja mais especifíco.
Clint abre seu sobretudo, como um mercador de armas clandestino de filmes B de ação, revelando toda sua mercadoria, para o espanto de Wihelm Telonius III
-Isso, isso é incrível, disse Wihelm Telonius III as lágrimas, eu nunca vi nada parecido antes.
-É apenas a ponta do iceberg. Eu tenho de tudo aqui.
-Aposto que tem.
-O senhor me parece ser um tipo de gosto apurado. Que tal um pouco de Drummond? Algumas gramas de Pessoa?
-Hmmm.. não sei
-Talvez o senhor queira algo mais agressivo... Que tal um Tommaso Marinetti? Um pouquinho disso aqui e BUM! Ou, porque não, Augusto dos Anjos.
-É bom?
-Como um soco no estômago disse Clint abrindo um meio sorriso maníaco.
-Clarice.
-Perdão?
-Clarice. Eu quero ler Clarice.
-Clarice... Lispector?
-Existe alguma outra?
-Eu só trabalho com poesia.
-Ela também escrevia poesias.
-As poesias dela não me interessam.
-Mas interessam a mim! Isso é muito mais do que literatura! É vida!
-Pare de gritar! Você não quer que eles nos encontrem quer? Escuta, se você quer ler tanto assim Clarice, porque não tenta isso aqui.
-Um link? Que porra é essa?
-Digamos que é um paliativo.
-Devo dizer senhor, que eu estou cansado dos seus paliativos. Ou nós encontramos uma solução ou eu saio.
-Você não vai encontrar nada mais parecido em nenhum outro lugar.
-Estou farto desses apócrifos!
-Não é um apócrifo. Ela tem uma assinatura própria. E as mesmas iniciais.
Por um momento os olhos de Wihelm Telonius III salivaram e sua boca brilhou antecipando o prazer literário. Mas seus instintos falaram mais altos.
-Eu quero Clarice.
-Vamos fazer assim. Te dou meio quilo de Leminski, você leva mais duzentas de Murilo de graça, por conta da casa.
Wihelm Telonius III inclinou levemente sua cabeça para direita e olhou contemplativo para cima. Por uns breves instantes, o beco permaneceu em silêncio.
-Feito.
No escuro, ambos os homens andam em direções opostas.
Mais tarde, ao chegar em casa, Clint senta num canto, abre seu sobretudo, tira uma cópia surrada de A Hora da Estrela e geme, baixinho: meeeeuuu meeeeuuu, toooodoooo meuuuuuu enquanto acaricia gentilmente o livro.

8 de jan. de 2012

Politiqueta

Todo poder emana do povo
e é por isso que fede tanto.

1 de jan. de 2012

escreva

Escreve
anda
rabisca com giz de cera colorido
essa folha de papel
esquece tudo que te disseram
esquece o que tu fazes
esquece tudo que tu gostas
esquece o que tu és
e sede tudo que tu esqueces

Escreve
vai
não tenhas medo
não olhes para baixo
antes de pular no abismo impenetrável
não acendas a luz
mergulhes no escuro
não respires
não penses
não ouses
seja