16 de set. de 2012

Durante um período da minha infância eu tive medo de ser abandonado pelos meus pais.

Isso não tem nada a ver com eles. Eles são pessoas muito boas para falar a verdade.

É só que uma vez a gente foi num orfanato, para levar uns brinquedos, roupas, comida e, evidentemente, brincar com as outras crianças.

Na época, eu devia ter uns cinco ou seis anos.

E havia um rapaz, cuja idade eu desconheço, mas certamente parecia mais velho que eu.

Devia ter uns oito anos. Mas poderia ter o dobro.

Na hora de ir embora, eu disse tchau. Ele disse até a próxima. E se não houver próxima vez? Vai ter sim. Sempre tem. Todo mundo acaba aqui. Uma hora seus pais morrem ou te deixam aqui.

Essas palavras tinham o peso do mundo na minha cabeça.

Ele era muito mais cético do que uma criança tem o direito de ser.

Muitas memórias dessa época já não me pertencem mais. Ou perambulam pelo meu subconsciente longe do meu alcance.

Mas eu não vou, jamais, conseguir esquecer a desesperança nos olhos desse rapaz.

Não sei o que foi feito dele.

Acredito que nunca saberei.

Mas é provável que já esteja morto e enterrado.

Presumivelmente, longe de seus pais.

Um comentário:

  1. Eu sei que eu já falei isso pra você, mas por que não deixar registrado no próprio blog?

    Você tem uma das melhores escritas que eu já vi. É um texto que flui e você nem percebe o quão impactante ele é até que chega ao fim. É aquela coisa que você lê e fica com você até muito depois de findada a leitura.

    E, esse, pra mim, é um dos melhores. É aquele típico 'soco no estômago' que eu adoro ver em um texto sucinto e, ao mesmo tempo, 'forte' (por falta de uma expressão melhor).

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