Durante um período da minha infância eu tive medo de ser abandonado pelos meus pais.
Isso não tem nada a ver com eles. Eles são pessoas muito boas para falar a verdade.
É só que uma vez a gente foi num orfanato, para levar uns brinquedos, roupas, comida e, evidentemente, brincar com as outras crianças.
Na época, eu devia ter uns cinco ou seis anos.
E havia um rapaz, cuja idade eu desconheço, mas certamente parecia mais velho que eu.
Devia ter uns oito anos. Mas poderia ter o dobro.
Na hora de ir embora, eu disse tchau. Ele disse até a próxima. E se não houver próxima vez? Vai ter sim. Sempre tem. Todo mundo acaba aqui. Uma hora seus pais morrem ou te deixam aqui.
Essas palavras tinham o peso do mundo na minha cabeça.
Ele era muito mais cético do que uma criança tem o direito de ser.
Muitas memórias dessa época já não me pertencem mais. Ou perambulam pelo meu subconsciente longe do meu alcance.
Mas eu não vou, jamais, conseguir esquecer a desesperança nos olhos desse rapaz.
Não sei o que foi feito dele.
Acredito que nunca saberei.
Mas é provável que já esteja morto e enterrado.
Presumivelmente, longe de seus pais.
...
Há 11 anos
Eu sei que eu já falei isso pra você, mas por que não deixar registrado no próprio blog?
ResponderExcluirVocê tem uma das melhores escritas que eu já vi. É um texto que flui e você nem percebe o quão impactante ele é até que chega ao fim. É aquela coisa que você lê e fica com você até muito depois de findada a leitura.
E, esse, pra mim, é um dos melhores. É aquele típico 'soco no estômago' que eu adoro ver em um texto sucinto e, ao mesmo tempo, 'forte' (por falta de uma expressão melhor).