15 de set. de 2012

A gerência

Então, como se tornou perceptível nos últimos dias, eu não estou mais conseguindo postar diariamente. Essas coisas levam tempo para serem escritas e o blog o estava consumindo em demasia.

Não vou dizer que não dava para postar todos os dias porque dá, sim. Mas fica muito puxado.

Ao mesmo tempo, tenho consciência do fato de que este blog não pode ficar abandonado como estava antes.

Por isso, decidi postar as quartas e domingos agora. Além de posts extraordinários, caso sejam necessários.

Obrigado pela compreensão.

12 de set. de 2012

A democracia vem a cavalo

Os líbios acabaram de garantir uma passagem só de ida para a democracia.

Eu não sei se foi planejado ou espontâneo, mas foi certamente idiota. Atacar um consulado está no topo da lista de "10 coisas para se fazer quando se quer começar uma guerra". Atacar um consulado dos Estados Unidos, em condições normais, já seria algo próximo do suicídio. Ainda mais na Líbia e ainda mais nas conjunturas atuais.

Se tivesse um bolão para qual país seria invadido pelos EUA após a primavera árabe, eu apostaria pesado na Líbia. Tem todos os pré-requisitos básicos: instabilidade, risco ao Ocidente (muito perto da Europa) e, principalmente, petróleo. E agora eles tem um pretexto.

Não o mais forte dos pretextos talvez, mas com a opinião pública - uma força extremamente poderosa nos EUA, ainda mais em época de eleições presidenciais - clamando por justiça, Obama não terá outra opção a não ser entregar, numa bandeja, a cabeça dos assassinos. Ou os americanos elegerão quem o faça.

Em tempo: provavelmente foi algo planejado, afinal são poucas as pessoas que andam, habitualmente, com morteiros e lançadores de granadas. Mas, cobrindo a pequena possibilidade de ter sido espontâneo, eu gostaria de saber: quem foi o imbecil que decidiu levar morteiros para uma passeata contra um filme anti-Islã.

P.S: Acho que não causaria dano nenhum à imagem da comunidade muçulmana se eles parassem de atacar embaixadas sempre que alguém fala alguma coisa de Maomé.

11 de set. de 2012


Eu nunca consegui entender esses arquitetos. Quem projeta um prédio com o vão das escadas dando no saguão? É tão feio.

Mas daqui de cima eu consigo ver todas as pessoas.

Elas estão ocupadas.

Cada uma vivendo sua vida. Em silêncio. Sozinhas. Pouco importa quem está ao meu lado (existe alguém ao meu lado?).

Uma vez inventaram o próximo. Foi uma péssima ideia.

E lá embaixo as pessoas seguem indiferentes. Ninguém ri, ninguém chora, ninguém liga. E, acima de tudo, ninguém grita.

Ninguém, absolutamente ninguém, jamais gritou dentro deste prédio. Estamos entretidos demais com a burocracia para isso.

Chega de tudo aquilo que é primitivo e essencial. Vamos por um terno.

A vertigem não é um medo de cair simplesmente. É mais do que isso. Vertigem é uma vontade tão grande de cair que a vontade que dá é de se jogar logo. E é isso que dá medo. O que aconteceria se eu me jogasse?

Um grito corta o prédio.

No chão, um corpo. Giz. Sangue.

Um bilhete. Suas últimas palavras.

“Desculpem pela bagunça”

10 de set. de 2012

Precisamos de mais anjos

"Ali ele virou uma espécie de anjo vingador. Um anjo preto, zangado, irritadiço e sempre à beira de um ataque de nervos." 

Essa frase, retirada da coluna de hoje do Noblat, é uma definição da repercussão do papel de Joaquim Barbosa no julgamento do Mensalão. Mas, sem querer, o colunista do Globo dá uma aula sobre como funciona o racismo no Brasil.

Observemos que, após qualificar o Ministro como anjo, ele acrescenta algumas características que, da maneira como está escrito, parecem não ser as que lhes são normalmente atribuídas. Dentre elas, negro.


"Não sou racista. Tenho quatro amigos negros."
Antes de prosseguir, quero deixar algo bem claro: este texto NÃO é muito menos pretende ser uma apologia ao racismo, nem desejo acusar o Noblat de ser um nazista ou algo do gênero. Estou apenas tentando fazer uma análise dos acontecimentos.

E o fato é que nós somos absurdamente racistas. Mas nosso racismo não é daquele tipo honesto e escancarado. É um segredo guardado a sete chaves. É racismo do cara que diz que claro que não, que absurdo, não sou racista, tenho até um amigo negro com a maior naturalidade, como se ter algum amigo negro fosse algo absolutamente incomum e inusitado.

É um racismo que só vem a tona quando, ao descrever um anjo, precisamos frisar que ele é negro, porque, se não o fizermos, ninguém vai perceber. E esse tipo de comportamento está tão enraizado em nossa cultura que nós nem nos damos conta de que o repetimos na maior parte do tempo. Inclusive, muitos dos que lerem este texto vão achar que eu estou ficando maluco e vendo coisas. Alguém poderia dizer, para contrapor meu argumento, que nunca viu uma imagem de um anjo negro representada em lugar nenhum, ao que eu responderia, como qualquer pessoa sensata, que isso é só mais uma evidência gritante do óbvio: a sociedade brasileira é racista.

E não apenas somos racistas como, num perfeito caso de esquizofrenia coletiva, negamos com veemência nosso racismo e desenvolvemo um agudo preconceito contra pessoas racistas. É um mecanismo de auto-defesa, na medida em que o racismo que enxergamos nos outros absolve-nos da nossa própria visão racista de ver o mundo. Aliás, onde escrevi esquizofrenia, poderia muito bem estar escrito hipocrisia que o texto não perderia muito em sentido.



Basta apenas recordarmos daquela pesquisa que mostrou que, embora cerca de 95% dos brasileiros não se considerassem racistas, um número ainda maior disse conhecer alguém racista. Provavelmente devem ter visto algum racista andando na rua alguma vez mas assim, bem de longe, porque eu não tenho nada a ver com isso.

O que torna o racismo tão difícil de ser erradicado no Brasil é justamente seu caráter sigiloso, agravado pela recusa dos brasileiros em admitir que tem algo de podre no meio da democracia racial. E a admissão de um vício, como se sabe, é o primeiro passo para sua superação.

9 de set. de 2012

Mea Culpa

Uma vez eu disse que seria lindo se o Russomano ganhasse em São Paulo. Estava enganado. Seria, talvez, terrivelmente engraçado ver o Serra encerrando a carreira política com uma derrota dessas, sem nem chegar ao segundo turno. Mas, certamente, eleger o candidato do PRB seria um retrocesso.

A maior cidade do país não deveria ser governada por um Russomano, assim como certamente não merecia um Kassab ou um Maluf.

Sua candidatura se legitima num programa de TV no qual defende os direitos do consumidor e se fundamenta em votos arrebanhados junto aos evangélicos. Muito pouco para um cargo tão importante quanto a prefeitura, principalmente a de uma metrópole como São Paulo.


Nesse momento eu não posso fazer nada além de sentir pena dos paulistanos, que são obrigados a escolher entre Haddad, Russomano, Serra e Chalita, para ficar nos mais conhecidos.

E pedir minhas sinceras desculpas aos leitores pela desinformação.