25 de ago. de 2012

Precisamos falar sobre democracia

Uma vez, vi um vídeo de uma entrevista do Saramago na qual ele dizia que era preciso tirar a democracia do pedestal em que ela se encontra e discuti-la. Fiquei assustado. Como assim o Saramago, logo o Saramago, quer sair por aí discutindo a democracia?? Que absurdo! Um crime! E não percebi que o criminoso era eu que, autoritariamente, decidi que a democracia está além de qualquer discussão.

Hoje, percebo como estava atrasado. Precisamos discutir sim a democracia. Até porque me parece que aquilo que a grande maioria dos governos democráticos do mundo fazem hoje passa ao largo desse conceito.

Achamos legítimo quando aquela que deveria ser a maior democracia do mundo restringe cada vez mais as liberdades de seus cidadãos em nome de uma pretensa guerra pela liberdade do mundo. Nos divertimos quando vemos essa mesma nação pressionar outros países pela extradição de um criminoso - confesso que a situação se desenvolve com tal complexidade que mal consigo acompanha-la - apesar dele já ter asilo em outro país. Aliás, o crime do qual ele é formalmente acusado foi cometido em outro continente, o que não justifica as pretensões desta grande potência.

Aqui mesmo no Brasil foi divulgado que oficiais do exército teriam mantido vigilância sobre a presidência da república mesmo após o fim da ditadura. Todos conhecemos a soberba dos militares que, do topo do seu nacionalismo, se julgam os únicos capazes de resolver os problemas do país. Podemos estar, sem saber e sem querer, cultivando as sementes de um novo golpe.

Observados todos os fatos, é legítimo que nos questionemos até que ponto vai nossa liberdade. Somos realmente capazes de exerce-la plenamente? Será que não estamos sendo sufocados?

Temo que a nossa democracia acabe matando a democracia.

24 de ago. de 2012

Sempre cabe mais um(a)

Naquilo que pode ser o início de uma grande revolução ou mais um daqueles casos que esqueceremos em um mês, um relacionamento poligâmico foi reconhecido como união estável em um cartório da pequena cidade de Tupã, no interior de São Paulo. Ok, nunca fui a Tupã e não a conheço, mas estou assumindo que é uma cidade pequena por estar no interior. Se bem que o interior de São Paulo tem umas cidades bem grandes.

Tamanho a parte, a outrora desconhecida cidade mostrou uma vocação para grandeza, encarnada na corajosa ação da tabeliã Claúdia do Nascimento Domingues. Afinal, se aqui no Rio é algo difícil de ser aceito, imaginem em Tupã.

Muitos agora devem estar me tomando por um entusiasta da poligamia. Peço um minuto de leitura antes que começam a falar que eu sou um pervertido, tarado ou coisas do gênero. Eu, particularmente, nunca estive em um relacionamento poligâmico. Confesso sentir, como muitos, um grande estranhamento ao pensar que mais de duas pessoas podem compartilhar a mesma relação ao mesmo tempo. Normal, fui criado numa cultura monogâmica, por pais que tem um casamento estável, cercado de pessoas que vivem em relacionamentos a dois.

Mas o nosso estranhamento não deve servir de parâmetro para os demais. Não acho que seja correto simplesmente dizer, como já ouvi por aí, que é uma orgia e não deve ser tolerada. Ou, pelo menos, não oficializada.

Uma coisa que eu pensei muito quando li essa decisão foi nos muçulmanos. Afinal, como já é sabido, um homem muçulmano pode casar-se com até quatro mulheres ao mesmo tempo, contanto que seja capaz de sustenta-las. Como fica a situação civil deles? Confesso que não sei. Se o marido fosse juiz, por exemplo, como se dividiria a pensão?

Ainda estamos engatinhando nesse campo e acredito que muito deverá ser feito em termos de legislação e jurisprudência para que esta situação seja devidamente regularizada. Mas estamos no caminho certo, e isso é muito importante.

23 de ago. de 2012

Recentemente, e com uma grande repercussão, o Senado aprovou um projeto de lei que prevê 50% de cotas para alunos pertencentes a minorias ou oriundos da rede pública. Confesso que não abordei previamente este tema por pura preguiça, mas como estou atualizando o blog diariamente agora, pareceu-me oportuno voltar a este assunto hoje, assim como fatalmente deverei escrever textos sobre outros eventos passados que, pelo mesmo motivo, ainda não foram postos no papel. Ou na tela pixelada ou algo assim.

Enfim, falta de assunto a parte, voltemos as cotas. Entendo que é um assunto terrivelmente polêmico e que desperta as paixões alheias, afinal, toca numa questão pessoal para muitos de nós, que é o mérito. A meritocracia, se existisse, deveria sim ser preservada.

Muitos dos meus leitores agora devem ter pensado: Se existisse, porque agora com as cotas não existe mais. É um pensamento muito atrativo, mas é um grande engano. Não existe meritocracia porque simplesmente não existe uma competição justa. E é aí que entram as cotas.

Elas não existem para dar vaga para vagabundo, como muitos dizem, mas para corrigir uma injustiça inerente ao sistema, que é o fato dos alunos de escolas públicas não terem acesso a uma educação de qualidade. Muito do meu mérito em ter passado para a faculdade é, na verdade, do meu pai que sempre se esforçou para pagar boas escolas para mim, algo que nem todos tiveram.

Constatada a óbvia diferença de condições, não se pode falar em meritocracia no Brasil, pois não existe uma competição justa.

Lógico que apenas as cotas não são o suficiente. A cota é um mero paliativo. Insistir apenas nas cotas, como deseja o governo, é errar duas vezes. A primeira é por não solucionar definitivamente o problema, a segunda é por instalar uma sensação de que o problema foi resolvido. Atuando como placebo, as cotas não serão capazes de reduzir essa injustiça inerente ao sistema, mas sim irão amplia-las e aprofunda-las.

A solução ideal para mim seria que o governo se comprometesse a investir mais na educação, com um prazo fixo para o fim da política de cotas. Organização é crucial para esse tipo de investimento.

Também me parece certo que o governo não imponha nada as universidades de maneira direta, como foi feito agora, uma vez que fere a capacidade de autodeterminação destas. Poderia ser incluída na lei uma recompensa financeira para as universidades públicas que cooperassem. Do jeito que elas estão quebradas, ia fazer um grande sucesso.

O que me parece bem difícil quando a gente vê o Ministro da Fazenda dizendo aos quatro ventos que o investimento em educação vai quebrar o Brasil. Com esse tipo de pensamento pequeno, parece que nos limitaremos a dar um jeitinho e deixar por isso mesmo.

Uma pena.

22 de ago. de 2012


Todos os dias. A mesma rotina. Todos os dias. Todos. Sem exceção. Todas as rotinas os mesmos dias todos os dias. E suas mesmas rotinas. Porque mesmo as rotinas podem se ser diferentes entre si, repetindo-se eternamente num ciclo repetitivo de inovação.

Todos os dias.

Se pelo menos eu ouvisse alguma música. Mas a única música que eu ouço são os pis ritmados das máquinas  que me cercam. Tum tum tum tum pi pi pi tum pi pi. Essa sinfonia, tocada por uma orquestra de diferentes coisas ligadas a mim, me acompanha rumo ao meu destino final. Será que eu finalmente vou sair dessa cama? Piiiiiiiiiiiii de vez em quando minha intranqüilidade de sons retorcidos e entrelaçados é interrompida por um longo pi agudo. Alguém escapou.

E eu continuo preso. Preso a essa cama. Ao leito da minha miséria. Preso por correntes. Correntes que me alimentam. Correntes que me respiram. Correntes que me são porque eu não tenho mais autonomia para me ser. Correntes que estão entranhadas tão profundamente no meu corpo que já não são mais parte de mim, e sim eu que sou apenas mais uma extremidade (esquisita) delas. Perdão, já fui. Hoje, eu não sou mais.

Se pelo menos eu tivesse vista pra praia. Mas só o que eu vejo é cinza. Cinza e áspero da parede do meu quarto. Tão cinza e tão áspero como isso que insistem em dizer que eu vivo. Isso que eu fiz de mim e que hoje eu me sou tão intensamente que me chego a não ser. Se pelo menos eu tivesse vista pra praia eu poderia me distrair um pouco enquanto eu espero a morte chegar num compasso sincopado de pis, piiis, pi-pis tuns e outros sons. Mas hoje eu sou apenas o que ainda ecoa de uma outrora existência.  Sou o som que morre ao fundo bem mais fundo que o ouvido alcança. Se pelo menos eu existisse...

Mas eu não existo, eu apenas espero. E nesse esperar eu suponho que vivo, mesmo que esteja morto. Mesmo que eu seja apenas mais um aparelho, apenas uma decoração desse necrotério que respira.

Às vezes, minha porta se abre para que um homem de branco entre. Ele segura sua prancheta, balança a cabeça como quem diz tão cedo você não vai, faz alguns ajustes e saí caminhando melancolicamente. Aí vem uma mulher (de branco) e aumenta minha dose de morfina. E eu volto a viver por um momento. Eu sou.  Mas (tão) logo o efeito passa, meus sonhos e ilusões desmoronam como uma fortaleza e eu volto a minha realidade de dores, solidão, espera. Mas de repente eu lembro que minhas dores são tão falsas quanto minhas alegrias. Dores são para os vivos. Eu sou um morto apenas esperando para morrer. Como uma lagarta que vira borboleta dentro de um casulo. Exceto que meu casulocorpo já é podre. E eu apodreço cada vez mais dentro dele, esperando pelo dia em que eu finalmente deixarei de voar para sair rastejando como um miserável. Eu era.

Mamãe, porque ainda está ligado?  Desliga, mamãe, desliga. Desliga todos os barulhos, todos esses defeitos, esses incômodos que me incomodam. Desliga esses aparelhos quebrados. Desliga o que é desperdício ligar, mamãe. Desliga o microondas. Eu tenho medo, mamãe. Alguém, por favor, alguém.

O som das pessoas conversando evapora e chega ao meu quarto pela janela – que de tão pequena e fechada não merece esse título – como se fosse um cheiro. E esse doce aroma sonoro misturado a todos os cheiros propriamente cheirados e todos os vapores e cores que emergem da rua só pra me lembrar da vida que outrora foi minha e eu penso que tudo um dia já valeu à pena, tudo um dia já foi bonito, tudo um dia já foi tão... vivo. Mas meus dias se foram e deles só o que resta são as projeções quebradas de sonhos que viraram realidade só depois de virarem pesadelos.

Como é triste o fim. E como é triste não saber quando o fim termina. Não há nada pior que viver preso ao fim que se prolonga como o resto de pasta de dente que insiste em ficar dentro do tubo. O fim que recomeça a cada instante. O fim que não tem fim. Um ciclo.

Odeio quando chove. Porque quando chove, e só quando chove, minha janela fica aberta. E mesmo que seja apenas uma brecha no cinza áspero da minha vida, é o suficiente para me deixar molhado. A água penetra minha pele e vai mofando meus ossos e enferrujando meus músculos. Cada vez mais eu sou menos. Definhando.

A porta se abre. Mas não é um médico. Nem uma enfermeira. Queria morfina. É um raro parente distante. Quero morfina. Ele me olha como se não me conhecesse. Não faz mal. eu também não o conheço e rejeito sua caridade. Não posso mudar meu testamento e mesmo que pudesse nada mais tenho. O tempo roubou tudo de mim. Minha vitalidade, meus sonhos. O brilho no meu olhar. O tempo roubou minha morfina.

E conforme vai sendo escrito, ele impõem mais e mais dificuldade. Ele sabe que, quanto mais é escrito, mais viverá. A história termina para que finalmente ela seja livre como uma brisa que desintegra lentamente o personagem, derretido em pó carregado pelo vento.  


Todos os dias.

21 de ago. de 2012

Não é dos carecas que elas gostam mais

Acabo de ser surpreendido com a notícia de que o Serra possui o maior índice de rejeição entre os candidatos a prefeito de São Paulo, com inacreditáveis 38% de... sei lá... ódio eleitoral. O que meio que comprova para todo mundo que ele já morreu para a política.

Mas se já tínhamos uma vaga noção do falecimento do político José Serra, porque exatamente essa notícia seria uma surpresa? Simples: estamos falando de São Paulo.

Para os que não sabem, São Paulo é um tradicional reduto do PSDB, visto por muitos como uma fortaleza inexpugnável. Uma espécie de Morro do Alemão da oposição. E foi justamente essa posição da autodenominada Locomotiva do País que levou o intrépido ex-presidente Lula a se embrenhar na selva de concreto armado apenas com um Haddad, que é um tipo de Dilma piorada, numa heróica tentativa de quebrar o monopólio tucano em São Paulo.

Monopólio este que ameaçada ser quebrado por ninguém menos que o improvável Celso Russomanno, do praticamente inofensivo PRB, do qual eu confesso nunca ter ouvido falar antes. Ele que outrora fora comparado a um cavalo paraguaio, um elefante no alto de um poste e, mais ultrajante ainda, ao Haddad, agora lidera as pesquisas com 31% de intenções de voto e um dos menores índices de rejeição por parte dos eleitores. Ou seja: ele vai crescer.

E crescendo, provavelmente vai enterrar de vez o Serra que, como se sabe, precisa ganhar essa eleição para se manter vivo na política. Na provável hipótese de derrota, ele provavelmente será forçado a se aposentar. Mas o que seria ruim para ele poderia se provar algo excelente para o PSDB, que teria em Aécio Neves nome incontestável para disputar as próximas eleições presidenciais. Livre das disputas internas, o único tucano com envergadura suficiente para vencer a Dilma, teria reais chances de chegar ao Planalto.

Mudando um pouco  foco: não seria lindo se Russomanno e Freixo ganhassem as eleições municipais que disputam? Ver as prefeituras das duas maiores das cidades do país nas mãos de partidos nanicos seria um alívio nos dias de hoje, em que vemos a política monopolizada pelo binômio PT/PSDB (sempre acompanhados do PMDB) e, quem sabe, uma promessa de vôos mais altos em 2014.

20 de ago. de 2012

Este blog está em um estado terrível de abandono. De verdade. Só não digo que ele está entregue as moscas porque nem elas aceitaram gerir este espaço.

Tendo observado este fato, decidi partir para medidas drásticas: a partir de hoje, até o dia 20/08/2013, este blog será atualizado diariamente.

Preparem-se.