27 de jan. de 2011

Encaixotado

Alguma vez eu li ou vi em algum lugar que a civilização humana podia ser descrita como uma civilização de caixas. Moramos em caixas, todos os dias de manhã pegamos uma caixa que se move para passarmos o dia inteiro em outra caixa e depois voltarmos, via caixa ambulante, para nossa caixa-moradia e ficarmos sentados em frente a uma caixa.

Poderíamos atualizar essa frase dizendo que hoje em dia mais e mais pessoas passam os dias em frente a um conjunto de duas caixas e através delas eles visitam as caixas de outras pessoas de todo o mundo, mas isso seria desnecessário. Não só porque a frase original já está boa desse jeito, mas principalmente porque isso não afeta o texto diretamente.

Na verdade, todo esse papo de caixas não afeta tanto o texto quanto se poderia supor. Estou aqui falando (ou escrevendo) sobre outro tipo de caixa, que igualmente afeta as pessoas. Porque, não obstante morar em caixas, a maior parte das pessoas se tranca em sua própria caixa individual. Melhor dizendo, essa "caixa" é uma proteção que a maior parte das pessoas ergue sobre si própria.

E como funciona essa "caixa"? É simples. A maior parte das pessoas se limita ao que eu chamo de caixa. É como uma barreira imaginária. Dentro está todo o seu universo conhecido. Tudo que é bom e amistoso está nessa "caixa". Do lado de fora está o que supostamente nos faz mal, o desconhecido.

A caixa tem, portanto, a função de proteger a gente do que consideramos ameaçador. É como as muralhas de um feudo mediaval. Ela determina o bom e o ruim, o que é nocivo e o que nos faz bem.

Por questões de prudência, as pessoas raramente fazem algo que desafie os limites da caixa. O que explica, por exemplo, o apego às origens e outras coisas, a dificuldade que as pessoas tem de se lançar em novas experiências e a facilidade com que ficamos paranoícos.

Não há necessidade de censurar as pessoas por criarem estas barreiras ao redor da mente. É um instinto mais que útil, principalmente se formos considerar que o Mundo ainda é um lugar selvagem, por mais que insistamos no contrário.

Na verdade, o problema existe quando se leva a caixa às últimas conseqüências e o medo do desconhecido nos impede de cruzar os limites da caixa. Quando isso ocorre, perdemos uma das marcas do ser humano, que é a capacidade de experimentar e descobrir coisas novas. Nos tornamos reféns da caixa. Ao invés de proteger, ela passa a limitar as pessoas. E as pessoas começam a ficar paranoícas. Começam a acreditar em qualquer coisa e a desconfiar de tudo que está do "lado de lá". E, sem antes averiguar, tomam como verdade absoluta tudo que a "caixa" determina.

No fim das contas, é o que mais se vê por aí: pessoas presas aos seus antepassados, aos seus costumes antigos e aos seus temores mais imbecis. São pessoas que não conseguem deixar o passado para trás e se acomodam no mundo da sua infância. Pessoas que conservam manias em menor e maior grau e que, em último caso são engolidas junto com o passado que jamais conseguem deixar de lado.

São pessoas que se isolam do mundo e vivem em seu próprio faz de conta. Pessoas que esperam que o mundo se adapte a elas e não o contrário. Pessoas facilmente qualificaveís como malucas ou paranoícas.

Prevenção é sempre importante. Após algumas experiências ruins, é natural que se evite a causa do problema. O que é prefeitamente irracional e, por incrível que pareça, normal, é que as pessoas inventem experiências ruins como desculpa para fazer valer os limites que impôs.

Afinal, não terá valido a pena viver se no final das contas você nunca quebrou a cara terrivelmente. A vida como ser humano não vale a pena se você no final dos seus dias perceber que nunca se questionou, nunca duvidou de si mesmo, do que estava fazendo ou do que era a vida. Mas isso não se faz sentado de dentro da caixa.

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