5 de fev. de 2013

Fechando o cerco

Como não podia deixar de ser, o post de hoje é sobre o fato que estarreceu o Brasil na última semana, fazendo com que milhares de pessoas, outrora pacatas, se transformassem em uma turba de revoltosos que, como toda turba de revoltosos de respeito, passou a assinar maniacamente petições pela internet. Estou falando, é claro, da eleição de Renan Calheiros para presidente do Senado.

Muito já foi dito sobre este polêmico pleito, que seria um "tapa na cara da sociedade brasileira", "prova de que os congressistas não estão nem aí pra gente" etc.

Sinceramente, eu achei esse caos todo instalado com a eleição exagerado. Sim, eu também não acho que o Renan Calheiros seja flor que se cheire, ninguém bonzinho dura 18 anos no Senado, muito menos chega a ser presidente da casa. Duas vezes. O que eu estou dizendo é que, ante o panorama geral das coisas, a eleição do Renan é algo muito pequeno.

Mas e que panorama geral das coisas é esse, você deve estar se perguntando, meu caro leitor. Bom, para termos uma visão exata dele, precisamos olhara para o resultado da votação na Câmara dos Deputados. E adivinha só quem foi eleito lá? Henrique Eduardo Alves do... (suspense) PMDB. Ou seja, o PMDB possui os três primeiros postos na linha sucessória da presidência. Pergunta: o que pode ser pior do que o PMDB com três primeiros postos na linha sucessória?

Bu
Que tal, o PMDB com um presidente? Sim, eu sei que o Sarney só foi pra lá depois de sair do cargo, mas o que vale é a intenção.

Mas aí você vira para mim e diz, com toda a razão: ora, não conheço nenhum nome de expressão nacional do PMDB, como isso seria possível? Ao que eu digo, meu caro leitor, que você não os conhece porque eles não existem. Ainda. 

E aí entra mais um detalhe pouco notado. Mas antes de prosseguir com esse texto, preciso lhe apresentar a alguém. 

Só um carguinho, por favor!

Conheça Eduardo Cunha. O novo líder do PMDB na Câmara. Amplamente conhecido no Rio, seu estado de origem, praticamente uma incógnita no resto do país, Eduardo é conhecido por ser um negociador extremamente teimoso e por não ceder jamais. Isso não é só um indicativo do cerco que o PMDB impôs a Dilma (que pode ser tema de outro post), mas também, de onde eu vejo, pode representar um primeiro passo rumo a uma candidatura própria do partido – algo que não ocorre desde 1989 –  em 2018.

Mas o que Eduardo Cunha tem a ver com isso? Simples. Adivinha quem foi um dos patrocinadores da candidatura dele a líder do PMDB na Câmara. Uma dica: foi reeleito governador do estado que tem o terceiro maior número de eleitores do país com mais de 60% dos votos em primeiro turno. Já sabe quem é?

Quem?

Ele mesmo. O homem. A lenda. O prefeito de Paris  governador do Rio de Janeiro, Sérgio "Guardanapo" Cabral. Que, por acaso, é o mais próximo que o PMDB tem de um nome de projeção nacional hoje, graças ao espetacular departamento de marketing governo que ele vem exercendo em seus últimos dois mandatos. Aliás, segundo me disse um amigo meu que esteve recentemente na Bahia, ele ouviu muito, ao dizer que era do Rio, que "tá faltando um Sérgio Cabral aqui pra gente".

Como em política nada é de graça, é bem possível que Sérgio ganhe, em troca do seu apoio, um Ministério, que serviria para lhe dar maior visibilidade nacional. Agora, qual será o Ministério – de grande importância –  que vem sendo rotineiramente contestado na mídia nos últimos dois meses e que, pela "divisão de cargos", pertence ao PMDB?

Vida Louca Vida! Ah não, pera...

Ganhou quem disse Minas e Energia, do Senador Edison Lobão, o melhor trocadilho da MPB. Não seria nenhum absurdo se ele fosse demitido agora, acho que até a The Economist aprovaria, com a ressalva de que preferia a cabeça de Guido Mantega na bandeja prateada. Se Cabral fizesse uma boa gestão nesse Ministério, seu caminho já estaria bem pavimentado rumo a aclamação popular.

E no plano estadual, seria muito bom para colocar seu vice e provável candidato do PMDB ao governo do estado do Rio de Janeiro, Pezão, a frente da máquina pública. Afinal, trata-se de um nome pouco conhecido e deve enfrentar uma eleição complicada, com a provável candidatura de Lindbergh Farias, do PT.

Aliás, acaba de me ocorrer. Lembram de alguém que já foi ministra de Minas e Energia e depois concorreu e venceu as eleições presidenciais?

Dilminhaaaa

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Acabei de notar que esqueci de explicar no texto que, dentre as funções do líder de um partido na Câmara, está a de levar a cabo estas negociações informais com a presidenta que envolvem votos, cargos etc. Daí o fato de Cunha estar ocupando essa posição chave no partido ser tão relevante para essa trama aqui relatada.


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