18 de jun. de 2013

Il fiore dei partigiano, morto pela la libertà

Rompo hoje meu silêncio terminal.

O motivo, claro não poderia ser outro.

(Em tempo: começo a escrever esse texto a simbólicas 18:48. A vida tem dessas coisas.)

O motivo, voltando agora ao ponto de partida, deste súbito e inesperado retorno é, como não poderiam deixar de ser, as esplêndidas manifestações que estão dominando o Brasil e o mundo.

Mas eu não vou fazer uma análise detalhada do movimento – até porque tenho plena consciência de que só entenderemos junho de 2013 em junho de 2053 e isso se tivermos sorte – nem as cobrirei dos elogios que merecem, até porque estes se foram todos ontem junto com as lágrimas de alegria que derramei ao ver o Congresso de volta ao Povo.



Este texto se propõe a ser, antes de tudo, um ensaio sobre aquilo que pode vir a ser e, sobretudo, sobre aquilo que não queremos que este movimento se transforme.

Antes de tudo, é preciso deixar bem claro uma coisa: a História brasileira é uma de lutas do povo por seus direitos e também da corrida das elites para sobrepuja-lo e doma-lo, visando manter seus privilégios. A imensa maioria das ditas "revoluções" de nosso país começam com o povo furioso e terminam com um regime autoritário de caráter elitista. Se não na forma, pelo menos na maneira de agir (vide a República Velha). Aqui, as coisas mudam para continuarem as mesmas.

Se formos fazer as contas, vivemos 42 anos de relativa liberdade, de 513 no total. Liberdade plena e irrestrita, de fato, só de 1988 para cá. Nosso maior período democrático foram estes 25 anos entre a promulgação da belíssima Constituição Cidadã e hoje, este exato momento em que eu vos escrevo. E eu temo que eles estejam para acabar.

Não é de hoje que o exército vem se assanhando. Aliás, nossas forças armadas até hoje mantém essa mentalidade golpista. Assim como boa parte da nossa direita não conseguiu abandonar suas raízes da UDN. E a grande mídia jamais perdeu seu gosto pelo poder.

É aí que vivem os monstros. Hoje testemunhamos uma das maiores e mais bonitas ondas de manifestações popular da nossa História e, ao mesmo tempo, se não ficarmos ligados, ela pode virar algo perigoso.

Não pela ação do povo, mas sim por obra das velhas forças que a ele se opõe. A velha mídia já se mobiliza para se apropriar dos protestos. Vemos isso quando Jabor pede desculpas, quando Patricia Poeta justifica a ação da Globo, numa das cenas mais nojentas da tv brasileira, quando Folha e Estadão que incitaram a violência policial num dia vem pedir desculpas no outro, quando a Veja, que sempre se opôs ao que chama de "vandalismo", tenta impor uma pauta ao movimento através de sua capa.

"Nós também não ajudamos a ditadura, não fomos conta o Diretas Já e não favorecemos descaradamente o Flamengo e o Corinthians."

Uma dica: quem num dia quer te ver levando porrada e te chama de vândalo e no outro faz carinho e te apóia, não faz isso por que mudou ou decidiu ficar bonzinho. O que estamos vendo aqui é mais uma tentativa de se apropriar das manifestações de suas reivindicações. Além de afastarem os vinte centavos da pauta, estão o alargando de tudo quanto é forma, incluindo o fim da violência e da corrupção, que são pautas estritamente demagógicas e apenas servem para esvaziar o movimento

O que eu temo, acima de tudo, é que esse movimento belo, popular e democrático se transforme numa  muleta para um golpe. Todos os componentes estão presentes. O exército, a mídia e até grupos sociais relevantes convergem nessa direção. E não me refiro às onipresentes e já citadas elites, mas também à setores da classe média e denominações evangélicas de forma geral.

Não, não os considero o mal do país. Mas é inegável que muitos pastores possuem grande poder sobre suas igrejas e poderiam usar estes expressivos contingentes populacionais como massa de manobra, como, aliás, já tem sido feito em eleições realizadas pelo país. Não nos esqueçamos que um golpe corresponde às expectativas e à retórica de crescimento político de pastores como Macedo e Malafaia. 

Já existem, circulando, relatos e vídeos mostrando agentes do Estado insuflando a violência. A troco de que, não se sabe.

Mas o país atravessa um momento extremamente delicado.

Ainda assim, apesar de meus temores, reitero aqui que ainda acredito na não violência, na paz, na força das grandes passeatas, no diálogo, no entendimento e, sobretudo, no povo brasileiro.

Tenho plena convicção que superaremos esta crise, não pela força das armas, mas pela força de nossas vontades.


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