23 de ago. de 2012

Recentemente, e com uma grande repercussão, o Senado aprovou um projeto de lei que prevê 50% de cotas para alunos pertencentes a minorias ou oriundos da rede pública. Confesso que não abordei previamente este tema por pura preguiça, mas como estou atualizando o blog diariamente agora, pareceu-me oportuno voltar a este assunto hoje, assim como fatalmente deverei escrever textos sobre outros eventos passados que, pelo mesmo motivo, ainda não foram postos no papel. Ou na tela pixelada ou algo assim.

Enfim, falta de assunto a parte, voltemos as cotas. Entendo que é um assunto terrivelmente polêmico e que desperta as paixões alheias, afinal, toca numa questão pessoal para muitos de nós, que é o mérito. A meritocracia, se existisse, deveria sim ser preservada.

Muitos dos meus leitores agora devem ter pensado: Se existisse, porque agora com as cotas não existe mais. É um pensamento muito atrativo, mas é um grande engano. Não existe meritocracia porque simplesmente não existe uma competição justa. E é aí que entram as cotas.

Elas não existem para dar vaga para vagabundo, como muitos dizem, mas para corrigir uma injustiça inerente ao sistema, que é o fato dos alunos de escolas públicas não terem acesso a uma educação de qualidade. Muito do meu mérito em ter passado para a faculdade é, na verdade, do meu pai que sempre se esforçou para pagar boas escolas para mim, algo que nem todos tiveram.

Constatada a óbvia diferença de condições, não se pode falar em meritocracia no Brasil, pois não existe uma competição justa.

Lógico que apenas as cotas não são o suficiente. A cota é um mero paliativo. Insistir apenas nas cotas, como deseja o governo, é errar duas vezes. A primeira é por não solucionar definitivamente o problema, a segunda é por instalar uma sensação de que o problema foi resolvido. Atuando como placebo, as cotas não serão capazes de reduzir essa injustiça inerente ao sistema, mas sim irão amplia-las e aprofunda-las.

A solução ideal para mim seria que o governo se comprometesse a investir mais na educação, com um prazo fixo para o fim da política de cotas. Organização é crucial para esse tipo de investimento.

Também me parece certo que o governo não imponha nada as universidades de maneira direta, como foi feito agora, uma vez que fere a capacidade de autodeterminação destas. Poderia ser incluída na lei uma recompensa financeira para as universidades públicas que cooperassem. Do jeito que elas estão quebradas, ia fazer um grande sucesso.

O que me parece bem difícil quando a gente vê o Ministro da Fazenda dizendo aos quatro ventos que o investimento em educação vai quebrar o Brasil. Com esse tipo de pensamento pequeno, parece que nos limitaremos a dar um jeitinho e deixar por isso mesmo.

Uma pena.

2 comentários:

  1. Se, por um lado, é possível afirmarmos que as cotas sociais tem o papel de trazer igualdade ao sistema educacional, somos obrigados a avaliar a ilusão nesse pensamento.
    Ao colocarmos alunos em uma faculdade, sem que eles sejam avaliados de uma forma justa e igual perante aos demais vestibulandos, os colocamos em uma situação de despreparo e iminente fracasso.
    Quando inserimos alunos sem conhecimento de química e física em uma faculdade de Medicina, estamos os condenando a desistir. Não que sejam eles os culpados, muito pelo contrário, mas por culpa do Estado.
    Assim, com certeza, é possível averiguarmos uma coisa positiva nas cotas, no entanto, elas deveriam ter sido acompanhadas por mudanças imediatas na própria educação pública. O mais irônico, no entanto, é ver a lei de 50% das cotas ser aprovada enquanto grande parte do ensino público universitário está em greve.
    Nessa ironia, só nos resta questionar: essa medida paliativa, aplicada dessa forma contundente e sendo a única modificação, será realmente paliativa ou será eternizada?

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    1. Porque não os dois? As cotas, mesmo se encaradas como soluções definitivas, não perderiam seu status de paliativo. Emprega-las para resolver o problema educacional brasileiro seria como tratar aspirina com cancer. Além de um erro terrível de pontaria, uma vez que o real problema educacional que enfrentamos não são os milhares de alunos entrando nas universidades, mas sim os milhões que saem das escolas públicas absolutamente despreparados.

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